domingo, 23 de outubro de 2016

OLHOS DE VER E OUVIDOS DE OUVIR


 

...bem-aventurados os vossos olhos, porque vêem, e os vossos ouvidos, porque ouvem. Porque em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que vós ouvis, e não o ouviram”. (Mateus 13, 9-17)

 

·         Mariane de Macedo

             Nesta parábola Jesus nos fala da importância de vermos e ouvirmos de forma equilibrada e justa. Situação que era corriqueira entre o povo da época, com o coração endurecido, não conseguiam compreender o sentido das palavras do Cristo. Assim faziam interpretações de forma que lhes fosse mais conveniente. No entanto, passados séculos as palavras do Mestre estão mais atuais do que nunca e, o coração dos homens, também! Permanecem iguais.

             Considerando que um dos momentos mais difíceis da vida humana é a hora de mudar. Quando chamados pelas leis universais a colocarmos em prática as nossas teorias e, percebemos que elas apenas serviam para organizar a vida alheia, caímos em descrédito pessoal. Pois na maioria das vezes exigimos dos outros comportamentos dos quais estamos longe de realizar.

             Quando criticamos alguém sem empatia, na realidade expomos nossa forma de ser.  Quando alguém diz ao mundo que você é uma má pessoa esta atitude revela que ela é insegura, tem um pensamento duro e cheio de estereótipos.

           O mais certo é que por trás de uma crítica destrutiva quase sempre se esconde o desconhecimento ou a negação de si mesmo. Na verdade, muitas pessoas lhe criticam porque não compreendem suas decisões, não conhecem a sua história e não entendem a verdadeira razão de ter escolhido o caminho que escolheu. Vão lhe criticar por desconhecimento mais profundo sobre o seu jeito e, sobretudo, por serem arrogantes e pensarem que são os donos absolutos da verdade. São indivíduos cheios de teorias prontas para os outros, mas incapazes de ser afetivos com os filhos, respeitar seus colaboradores, cumprimentar o porteiro, o vizinho e, outras tantas atitudes esperadas dos que se intitulam “autoridades” na forma de agir. Falam de teorias, vazias de sentimento, pelas suas próprias fragilidades. Posto que quem sente, sabe como é doloroso superar os desafios existenciais.  E, além disto, a importância dos outros nos instantes decisivos da vida.

         Em outros casos, as pessoas lhe criticam porque veem refletidas em você certas características ou talentos que não querem reconhecer. O escritor francês Jules Renard afirmou com precisão: “Nossa crítica consiste em reprovar nos outros as qualidades que cremos ter”.  Por exemplo, uma mulher que é maltratada pelo seu marido pode criticar duramente o divórcio. É uma forma de reafirmar sua posição. Diz a si mesma que deve seguir suportando essa situação. E o curioso é que quanto mais tóxica seja a crítica, mais forte se revela a negação dos seus sentimentos.

           Na prática, em algumas ocasiões, a crítica destrutiva não é mais do que um mecanismo de defesa conhecido como projeção. Neste caso, a pessoa projeta nos outros os mesmos sentimentos, desejos ou impulsos que lhe são muito dolorosos. E com os quais não é capaz de conviver. De maneira que os percebe como algo estranho e que deve ser castigado.

              Para tanto, os Sioux têm um provérbio muito interessante: “Antes de julgar uma pessoa, caminha três luas com seus sapatos”. Se referem ao fato de que julgar é muito fácil, entender o outro é um pouco mais difícil. Ser empático é muitíssimo mais complicado. E o julgamento só será justo se vivermos experiências iguais.

            Portanto, viver para satisfazer as expectativas alheias é uma exigência que nos impingimos por crenças construídas na infância, onde não tínhamos a maturidade necessária para escolhermos outro caminho. No entanto, ao entrar na vida adulta necessitamos resignificar nossos sentimentos, para que as nossas escolhas se solidifiquem de tal forma, que as críticas alheias não sejam mais importantes de que as nossas convicções. Partindo do pressuposto, de que a estrada da nossa vida, o percurso fomos nós que fizemos. Mas, caso os outros acharem que poderia ser diferente, dê-lhes a oportunidade de trilhar a mesma estrada. E assim, você perceberá que ele não caminhará da mesma forma. E não porque você ou ele fez melhor, mas única e exclusivamente, porque somos individualidades.

           Assim, nossa existência deve ser pautada pela compreensão de que a crítica do outro não pode interferir nas nossas escolhas, sem o nosso consentimento. A crítica é a penas uma opinião e não a vivência de uma realidade;

           Então não é necessário ter medo da crítica espalhada por uma percepção torpe do olhar alheio. Ser criticado por pessoas que tem o prazer de denegrir, apenas reafirma que ela tem a língua fora do cérebro. Ou seja, ainda é o mesmo homem endurecido a qual o Cristo referia na parábola. E que também foi evidenciado por Maquiavel: “Em geral, os homens julgam mais pelos olhos do que pela inteligência, pois todos podem ver, mas poucos compreendem o que veem”. Ou seja, os homens julgam mais pelos olhos do que pela inteligência.

           Jesus nos asseverava para ver com os olhos da alma, ouvir com os ouvidos do coração, para construirmos um pensamento inteligente, sem interpretações baseadas em nossas emoções frágeis. Se já compreendemos o verdadeiro sentido da vida, através desta doutrina, que nos diz de onde viemos, o que estamos fazendo aqui e para onde vamos. Onde está a nossa diferença do comportamento massificado da sociedade, que é juiz da vida alheia?

          Ao espírita cabe o não julgamento. A não atirar a primeira pedra, posto que também ele reencarnou no mundo de provas e expiações. Portanto, imperfeito como o irmão de caminhada. Se hoje não erramos, tenhamos a certeza que a reencarnação é a prova dos equívocos do passado, portanto a crítica ao nosso semelhante com objetivo de denegrir apenas nos mostra o quanto ainda precisamos desenvolver nossos sentimentos, para definitivamente entendermos a proposta do Mestre... compreendam com o coração, e se convertam, e eu os cure.

·         Psicóloga, trabalhadora do Centro Espírita Ismael Eillers, membro da AMERGS.

BIBLIOGRAFIA: Baseado no texto de Jennifer Delgado – Extraído de Rincón de la psicología – Tradução livre de Doracino Naves

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

RESILIÊNCIA


       Resiliência

           Mariane de Macedo


                      Resiliência é um conceito oriundo da física, que se refere à propriedade de que são dotados alguns materiais, de acumular energia quando exigidos ou submetidos a estresse sem ocorrer ruptura. Este termo também tem origens na Economia da Natureza ou Ecologia. Pode ser definido como a capacidade de recuperação de um ambiente frente a um impacto, como por exemplo, uma queimada. Logo, o bioma cerrado costuma apresentar uma grande capacidade de resiliência após uma queimada.

                      Atualmente resiliência é utilizado no mundo dos negócios para caracterizar pessoas que têm a capacidade de retornar ao seu equilíbrio emocional após sofrer grandes pressões ou estresse, ou seja, são dotadas de habilidades que lhes permitem lidar com problemas mantendo o equilíbrio emocional.

                        A Psicologia pegou emprestada a palavra, criando o termo resiliência psicológica para indicar como as pessoas respondem às frustrações diárias, em todos os níveis, e sua capacidade de recuperação emocional. Portanto, quanto mais resiliente for o indivíduo, mais fortemente estará preparado para lidar com as adversidades da vida.

                     Nesse sentido, a atitude mental de enfrentamento é uma das primeiras lições para construir uma boa resiliência psicológica, pois possibilita ao homem uma postura mais ativa, destituindo-se do papel de vítima.

                       O psicólogo existencialista Viktor Frankl, prisioneiro dos campos de concentração teve a oportunidade de observar as mais diversas reações dos prisioneiros frente às atrocidades cometidas pelos nazistas. Em seus relatos, descreve que muitas pessoas em certo ponto não mais conseguiam tolerar o sofrimento e assim deliberadamente desistiam de viver. Faziam isso se jogando contra as cercas eletrificadas, deixando de se alimentar ou, finalmente, se atirando contra os militares e seus cachorros. Em suas notas, descreveu que aquelas que mais suportavam a dor de uma prisão (e que sobreviveram) eram aquelas que desenvolviam um sentido de vida como, por exemplo, guardar comida para um prisioneiro mais fragilizado ou mobilizar-se para conseguir medicações para outro mais necessitado. Tais ações, segundo ele, traziam de volta a dignidade humana, pois abasteciam as pessoas com força e determinismo pessoal.

                    Para Frankl, “O sucesso, como a felicidade, não pode ser perseguido; ele deve acontecer, e só tem lugar como efeito colateral de uma dedicação pessoal a uma causa maior” Desta forma, o homem deve em seu cotidiano desenvolver projetos que tragam um sentido a sua existência, pois o torna mais resiliente frente às adversidades da vida. Concordando com a assertiva de Jung, que a finalidade da vida não é aquisição da felicidade, mas a busca de sentido, de significado. O sentido, o significado existencial, entretanto, caracteriza-se pela busca interna, pela transformação do indivíduo. É um sentido profundo, a princípio de autorrealização, depois de auto iluminação, de auto encontro.

                    Outro aspecto que apoia na resiliência, é a capacidade de compreender os próprios sentimentos. Estar atento às emoções é uma das maneiras mais simples do homem desenvolver a capacidade de enfrentamento emocional. Quando reconhece seus sentimentos e os aceita tem a possibilidade de permanecer em sofrimento, ou sair deste. A lucidez em relação a sua subjetividade lhe permite ser mais rápido na busca de soluções, e quando executa, com atitudes sensatas e coerentes encontra o equilíbrio.              

                     Portanto, o que define uma pessoa resiliente é a capacidade de buscar, a força e coragem para prosseguir. É a certeza de suas condições internas para a superação através da busca deste sentido. E para isto, a psicologia, através da psicoterapia tem muito a contribuir com o indivíduo.

A ASSERTIVIDADE NO   COTIDIANO                                                                                      

 Mariane de Macedo 

                         Desde de 2005 tenho estudado sobre o tema Assertividade, dando origem a um blog, ao qual tenho compartilhado alguns textos desenvolvidos em capacitações e palestras em vários tipos de grupos, tais como: empresariais, escolares, religiosos, segurança e outros. Transformei o tema como “carro chefe” de minhas atividades profissionais, posto que assertividade é uma forma de comunicação. No entanto, se nas relações profissionais devemos nos capacitar, porque não a estende-la aos nossos lares? Ao responder este questionamento, que me debruço, novamente, no tema ofertando ‘Assertividade’ para as nossas vidas pessoais. O indivíduo que a compreende passa a se posicionar, sem preocupações com críticas ou perda de afeto, ou seja, se comunica de forma clara e objetiva, visando resultados mais verdadeiros nas suas relações cotidianas.

                        Carlos Augusto Abranches (2001), diz que a era da comunicação exige atributos indispensáveis ao homem, para que tenha competências novas e eficientes, visando interagir de maneira mais profunda e produtiva com os outros e a natureza. Verifica através da proliferação de técnicas de controle mental; Cursos de línguas estrangeiras e oratória, através dos profissionais de “marketing” das grandes empresas. Para estas, quem não aprende a se comunicar está fora do mercado de trabalho. O candidato ao ser entrevistado deve demonstrar suas habilidades sociais, e estar desacompanhado da conduta arrogante e vaidosa.  Entretanto, as empresas não querem apenas um currículo abarrotado de cursos, mas um funcionário que saiba: Conversar construtivamente com os colegas, que seja polido, cordial, com bom-humor, equilíbrio, humildade, que tenha metas definidas de crescimento, ou seja, com autoestima, visto que, estas posturas interferem positivamente na relação com o cliente. Além disto, o autor informa que foi verificado, que aquelas pessoas que se dedicam a trabalhos voluntários, apresentam a chamada taxa de bondade social, pois desenvolveram valores como: Tolerância; paciência; capacidade para lidar com as frustrações sem perder o equilíbrio. Portanto, apresentam maiores habilidades sociais para estarem à frente das empresas, na solução de dificuldades, especialmente com o os clientes mais exigentes. Pois que, consideram não como problemas o cotidiano, e sim, como desafios as rotinas laborais.

                         Os estudos sobre assertividade tiveram início com os psicólogos Wolpe e Lazarus, que buscavam fazer uma distinção sobre asserção e agressão. A palavra assertividade era inexistente na língua portuguesa, e foi introduzida pelos terapeutas comportamentais. Na sua tradução, to assert significa “declarar ou afirmar algo de maneira positiva, direta e vigorosa”. A definição do termo auxilia a entender que essas condutas estão ligadas as habilidades sociais e comportamentos verbais, ou seja, à comunicação.  

                           O indivíduo que se manifesta de forma não-assertiva sente-se magoado e ansioso na hora da atitude e, às vezes com raiva e ressentimento depois. O assertivo sente-se confiante e auto-respeitado. O agressivo sente-se superior na hora que fala, justificando que “ falo na cara, doa a quem doer”. Neste caso não estamos falando de assertividade e, sim de falta de educação.

                Mas porque a maioria das pessoas não é assertiva? Uma das explicações, segundo Abranches, que é em decorrência de ansiedade e de crenças inibidoras da conduta assertiva. Ressalta que é evidente que quando alguém fala, sem reservas, causa desconforto a quem ouve e, que o mecanismo de defesa presente é o de reação. Por essa razão, Kern (1982) investigou que a pessoa assertiva acrescenta a suas considerações a empatia, conseguindo moderar os efeitos negativos da asserção.

                Outro fator que leva o indivíduo ao comportamento não-assertivo são algumas crenças irracionais, tais como: 1) Rejeição Pessoal, que diz respeito à crença que alguém deve ser amado o tempo todo, por todos os quem julgue importante, ou seja, incondicionalmente; 2) Competência Pessoal: Que alguém deve ser perfeitamente capaz, sempre, adequado e competente. (3) Noção de Justiça: A vida como uma grande tragédia, se não segue o curso das expectativas da pessoa, o mundo desaba. A incompreensão e a injustiça vistas como catástrofes das quais a criatura sempre é vítima.  Neste caso, o autor finaliza, dizendo que: Pode-se inferir, com base nestas crenças nocivas à felicidade das pessoas, que a assertividade pode ser prejudicada pelo isolamento social ou pelas queixas amargas sobre os outros e sobre o sentimento de desamparo.

               Portanto, se algumas das causas que levam o indivíduo a não ser assertivo, são as crenças arraigadas, podemos no processo psicoterápico rever estas crenças para resignificá-las. Pois é dentro da família que nos construímos. Algumas vezes com uma visão de mundo muito pejorativa que nos fragiliza diante das exigências externas. O indivíduo adulto que ainda permanece cobrando a educação dos pais, não amadurece, comporta-se como eterna criança vitimada. Quando compreende a forma em que estas relações aconteceram e como se comunicavam: se de forma agressiva, não assertiva ou assertiva, o indivíduo se capacita a ampliar a sua percepção. E é mudando a percepção, tem a possibilidade de construir um comportamento mais adequado e com uma convivência mais sadia.

                A vida é um processo dinâmico e, ao ficarmos apegados a crenças do passado não conseguiremos seguir em frente. Construindo uma conduta Assertiva o indivíduo aprende a se expressar de forma equilibrada, sem medo e mimetização. E assim, através de um comportamento proativo a vida deixa de ser um eterno arrastar de correntes.

 

 

 

sábado, 17 de maio de 2014

ONDE ESTÃO OS CUIDADORES?

      “Não te peço que os tire do mundo, mas que os livre  do mal”.
                                                                                      João, 17:15

                 
 De tempos em tempos a população é surpreendida por acontecimentos que deixa a todos mobilizados, como no caso de Isabella Nardoni e agora Bernardo  Boldrini. Ficam estarrecidos pela crueldade e frieza dos atos. Os sentimentos que permeiam o comportamento das pessoas são os mais distintos, desde a curiosidade, identificação até a vingança. Alguns tratam do fato como se fosse um programa de televisão, sem se darem conta do número de Isabellas e Bernardos que existem ocultos por aí. No entanto, elegeram-os como representantes das demais, para ilustrarem a sua própria indignação.

Nas histórias infantis, sempre se ouve contar da madrasta perversa o que, para a maioria das pessoas, não representa nenhuma novidade. Mas ainda se acreditava no pai, que sempre dava um jeito de defender os filhos. Embora algumas vezes fosse omisso, como na fábula da Cinderela. Infelizmente, os noticiários revelam, através das perícias, que em ambos os casos os pais e as madrastas estão envolvidos nestas tramas existenciais. Não mimetizando a fábula.

A menina foi asfixiada e posteriormente jogada do sexto andar do prédio, com a possibilidade de ter sido, inclusive, mediante a presença dos irmãos menores. Triste pensar que tal procedimento parta dos cuidadores destas três crianças. Além disto, pode explicar a falta de afetividade de um pai que tem a filha morta e mente para defender a esposa desequilibrada.

Em relação ao menino os suspeitos deixam vários indícios de negligência, descaso em relação ao menor. A criança implorou por atenção e cuidado, diante do judiciário que tomou as providências cabíveis junto à família, no entanto o tempo expirou junto com a vida de Bernardo.

Hoje são comuns casamentos rompidos, pessoas deixarem de se gostar, principalmente quando não existe mais respeito por parte dos cônjuges. Na maioria das vezes, o casal já tem filhos. Mas isto não deve ser impeditivo para constituir novas famílias. Assim, os filhos deverão conviver com os pais, partindo da premissa que não existe divórcio de filho.  Portanto, quem casa com um homem ou mulher que possui filhos, deve ter claro que esta convivência será inevitável. Assim, o indivíduo que não tem estrutura para conviver com a realidade, não deve se arvorar ao título de padrasto ou madrasta. Mas, infelizmente nem sempre é o que acontece.

Estas relações acabam sendo permeadas de perversidade. Quando os adultos têm que enfrentar algo desconhecido, geralmente resistem. Um colega novo, um professor novo, um trabalho novo ou qualquer situação em que não estejam preparados desestrutura-os. Que atitude esperar então de uma criança? Ela que se constrói dentro da relação com os cuidadores, que são os pais. É natural que seu pai ou sua mãe, casando novamente, desperte no filho ciúmes da nova relação. De acordo com o imaginário infantil, acredita que não será mais amado - o que, de fato, aconteceu nos casos de Isabela e Bernardo - e passa a ter comportamentos que são condizentes para uma criança. Diferente da atitude que se espera dos adultos, que devem ter o equilíbrio suficiente para orientar os pequenos. Entretanto, em adultos imaturos, a conduta é infantil. Agem como crianças, fazendo competição, dentro daquilo que foi construído pela sua paranóia.

A madrasta terceirizou sua felicidade quando passou a viver à sombra da ex-esposa, mãe da menina, que por sua vez nem estava mais preocupada com o ex-marido. Mas, na fantasia da madrasta a criança era a própria mãe. A coitada não se dava conta que quanto mais ela falava na ex-esposa, mais viva ela ficava. E em meio a patologias não tratadas, a criança sofreu as consequências, perdendo a vida. Também no caso Bernardo se percebe o descaso e a falta de afetividade pelo menor, que não apresentava nenhuma conduta agressiva e tão pouco ameaçadora. Na realidade, demonstrava necessitar de muito pouco, embora com uma fortuna a receber.

Um marido que ama a esposa, e é equilibrado, não compactuaria com qualquer comportamento de agressividade. Ainda mais, contra seus filhos. Além disto, ao compartilharem a doença de odiar a mãe das crianças assassinadas, mataram todos os filhos. Isabela e Bernardo fisicamente e os que ficaram vivos e com os pais presos, foram mortos psicologicamente.

 Por mais furiosa que uma pessoa esteja, ela tem noção do certo e errado. Só quando a lógica é construída para beneficio próprio, onde o indivíduo visa apenas o seu bem-estar, em detrimento do outro, ele age assim. Não tolera frustrações, exigindo ser atendido incondicionalmente. Tenta convencer os outros da injustiça que está sofrendo, usando da sedução. Alguns, inclusive choram e gritam para camuflar a própria indiferença, diante das necessidades dos outros, mesmo que sejam seus filhos. Mas, neste caso, não estamos falando propriamente de um pai, mas de um doente, que concebeu uma criança. Portanto, ambos estão no mesmo nível de desenvolvimento emocional.

Quantas Isabellas e Bernardos precisarão ser mortos para a sociedade encontrar o verdadeiro sentido da vida? Quando uma relação não dá certo não existe apenas um responsável, pois se pressupõe que o envolvimento seja entre duas pessoas, portanto, não é unilateral. Ambos estão imbricados neste contexto, que é só deles. Está solucionado o que já não tinha mais solução, com a separação. Assim, devem tentar como pessoas maduras, conversar sobre o bem-estar dos filhos, assumindo a própria vida, sem responsabilizar o outro pela sua felicidade ou desdita.

Somente quando os sentimentos não estão esgotados, os indivíduos permitem que estes direcionem suas vidas. Ficam escravos do ressentimento, da mágoa, da raiva e, às vezes do amor não correspondido. Neste caso, a solução é buscar ajuda profissional.

Além disto, em nenhum dos casos a família é espiritualizada, portanto se justifica a falta de cuidados para com os menores, posto que um dos conceitos de espiritualidade é de ter uma atitude cuidadosa com a vida. Ou seja, com todos os seres viventes, especialmente com aqueles que estão sob a tutela e, deveriam ter recebido  cuidados. Só cuida e é cuidador, quem é espiritualizado.

A doutrina espírita salienta que o primeiro dos direitos naturais do homem, é o de viver. Portanto, ninguém pode atentar quanto à vida de seu semelhante, nem fazer nada que comprometa sua existência. 

É através da vida, que Deus oportuniza as experiências necessárias, junto aqueles aos quais é trazido para reajuste. Pois a família nunca está isenta de responsabilidade.

Certamente estes pais e madrastas foram chamados ao acerto, no entanto sucumbiram. Deixando a prevalência do egoísmo, chaga da humanidade, segundo o evangelho, em seu capitulo XI, item 11.

No Cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram, salienta o Espírito de Verdade. Portanto, espiritualizar-se é o caminho para vencer o egoísmo.

O homem necessita repensar as atitudes, que fazem parte das suas escolhas, o que só é possível quando há humildade. A prepotência e a certeza da impunidade diante da lei dos homens fortalece a infração das leis. No entanto, se ilude a criatura que acredita na impunidade das Leis divinas, diante destas todos respondem.

Matar, tanto fisicamente como psicologicamente os filhos, só demonstra a pouca saúde mental que enveredam por este caminho.

Portanto, a doutrina espírita vem aclarar as criaturas para a mudança de comportamento, chamando ao compromisso com a vida. Construir relacionamentos maduros e responsáveis é tarefa dos pais, que compreendem que o espírito do filho, também veio para evoluir. A imortalidade da alma precisa estar internalizada no cristão para que as atitudes cuidadosas sejam reforçadas com amorosidade. Quando Jesus asseverou “Não te peço que os tire do mundo, mas que os livre do mal, ele preconizava sobre o respeito à vida, que é necessária.

Para Isabella e Bernardo um resgate doloroso,  no entanto para aqueles que executaram o ato, somente a misericórdia divina para se ressarcirem diante das leis maiores. E por isto, Jesus recomenda que nos reconciliemos o mais cedo possível com o nosso adversário, não é somente objetivando apaziguar as discórdias no curso da nossa atual existência; é, principalmente, para que elas se não perpetuem nas existências futuras, para que todos os seres sejam livrados do mal.  

Mariane de Macedo

BIBLIOGRAFIA:
 

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 119. Ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. 

 

 

domingo, 27 de abril de 2014

NASCER: PRERROGATIVA DA VIDA



                                                                                      Mariane de Macedo

                 Como é que vedes um argueiro no olho do vosso irmão, quando não vedes uma trave no vosso olho? – Ou, como é que dizeis ao vosso irmão: Deixa-me tirar um argueiro do teu olho, vós que tendes no vosso uma trave? – Hipócritas, tirai primeiro a trave do vosso olho e depois, então, vede como podereis tirar o argueiro do olho do vosso irmão. (S. MATEUS, 7:3 a 5.)

            O homem como ser histórico, passa por um processo de aprendizado e transformação, posto que em várias épocas lhe foi dada a oportunidade de reflexão. Na Grécia com os filósofos; através dos ensinamentos de Moisés; a vinda do Cristo - o cristianismo; a reforma luterana; revolução francesa, as grandes guerras e, outros. Nestes fatos históricos, sempre existiu um chamamento ao individuo para o reconhecimento de si mesmo e respeito ao outro, o que redundou na organização dos direitos humanos. No entanto, em pleno terceiro milênio, onde paira um apelo coletivo sobre a responsabilidade com o planeta e, por conseqüência com a vida, a humanidade ainda discute sobre aprovação do aborto. Questionar se deve ou não tirar a vida de alguém, é desdenhar as conquistas alcançadas ao longo dos séculos.                

             A doutrina espírita tem na imortalidade da alma e na reencarnação, a sustentação ao respeito à vida. Estes dois princípios afirmam que os espíritos são almas encarnadas em corpos, que através da reencarnação passam pelas experiências necessárias para o aperfeiçoamento, sejam elas boas ou ruins. De acordo, com a necessidade de aprendizado do espírito, junto à família, que não está isenta das provações.

           Entretanto, para a sociedade materialista, e distanciada da divindade, o que prepondera é a imediata satisfação da mãe. Desconhecedora dos seus comprometimentos espirituais com o ser em formação deseja expurgá-lo, em uma tentativa de aliviar o seu sofrimento, em detrimento do espírito, que necessita reencarnar nestas condições.

           A Dra. Marlene Nobre, presidente das associações médico-espíritas Internacional e do Brasil, nos diz que é infundado o argumento utilizado em defesa do aborto dos anencefálos. De que o feto por não ter cérebro, não teria um espírito ligado a ele, diz ela: Este argumento, porém, não tem o respaldo da embriologia. Durante a sua formação, o feto anencéfalo pode ter, por distúrbios ou falhas do sistema vascular, a paralisação do desenvolvimento do Sistema Nervoso Central em pontos distintos. Assim, pode ter um único hemisfério cerebral, não ter nenhum, mas, sem dúvida, terá o diencéfalo ou as estruturas reptilianas responsáveis pelas funções primitivas e inconscientes. Tanto é verdade que o anencéfalo tem todas as atividades instintivas básicas preservadas, como o pulsar do coração e a possibilidade de expandir os pulmões, nos movimentos respiratórios normais. Não se pode dizer, portanto, que ele não tem cérebro, nem tampouco que morre ou para de respirar ao nascer. Há inúmeros anencéfalos que persistem vivos por horas ou dias, após o nascimento, mesmo desconectados do cordão umbilical, justamente porque possuem o cérebro primitivo, responsável pelas funções básicas instintivas.

Se somos espíritas, a explicação para os fetos anencéfalos é muito mais lógica e racional. Não podemos nos esquecer de que só o Espírito tem capacidade de agregar matéria. Se não tivesse um Espírito no comando, o anencéfalo não poderia formar os seus próprios órgãos - e o fazem a tal ponto que eles são cogitados para transplantes -, não cumpriria o seu metabolismo basal, e não teria preservadas as suas funções vitais. O Espírito expressa-se através do perispírito ou do corpo espiritual e este, por sua vez, modela o corpo físico. Se há erros ou deficiências na modelagem, isto significa que o Espírito deformou o seu períspirito por problemas cármicos ou faltas cometidas em outras vidas. Assim como podem ocorrer deficiências nos mais variados órgãos, a questão não é diferente em relação ao cérebro. Na questão 344, eles afirmam que a união da alma com o corpo dá-se no momento da concepção; um pouco mais adiante, na de nº 356, advertem que há corpos para os quais nenhum Espírito está destinado, explicando que isto acontece como prova para os pais. E ainda no desdobramento desta questão enfatizam que a criança somente será um ser humano se tiver um espírito encarnado. Se juntarmos todas estas respostas, concluiremos que os corpos para os quais poderíamos afirmar que nenhum espírito estaria destinado seriam os dos fetos teratológicos, monstruosos, que não têm nenhuma aparência humana, nem órgãos em funcionamento. Como vimos nada disto se aplica ao anencéfalo, porque o espírito comanda, ainda que precariamente, um organismo vivo. No caso do anencéfalo, o períspirito está lesado, principalmente, em seu chacra ou centro de força cerebral que é responsável pela percepção (visão, audição, tato etc), pela inteligência (palavra, cultura, arte, saber) e atua no córtex. O Espírito com este tipo de má-formação errou, portanto, na aplicação da inteligência e da percepção.

                 Após o exposto, permanece claro que a preservação da vida vem ao encontro dos ensinamentos de Jesus, que nos assevera em Mateus 7:3-5: “Como é que vedes um argueiro no olho do vosso irmão, quando não vedes uma trave no vosso olho?”.  Onde o evangelho segundo espiritismo nos esclarece que a humanidade insensata busca no outro o mal, antes de ver  o mal que está em si mesmo. Para julgar-se a si mesmo, fora preciso que o homem pudesse ver seu interior num espelho, pudesse, de certo modo, transportar-se para fora de si próprio, considerar-se como outra pessoa e perguntar: Que pensaria eu, se visse alguém fazer o que faço? Incontestavelmente, é o orgulho que induz o homem a dissimular, para si mesmo, os seus defeitos, tanto morais, quanto físicos. Semelhante insensatez é essencialmente contrária à caridade, porquanto a verdadeira caridade é modesta, simples e indulgente. Caridade orgulhosa é um contrassenso, visto que esses dois sentimentos se neutralizam um ao outro. Com efeito, como poderá um homem, bastante presunçoso para acreditar na importância da sua personalidade e na supremacia das suas qualidades, possuir ao mesmo tempo abnegação bastante para fazer ressaltar em outrem o bem que o eclipsaria, em vez do mal que o exalçaria? Por isso mesmo, porque é o pai de muitos vícios, o orgulho é também a negação de muitas virtudes. Ele se encontra na base e como móvel de quase todas as ações humanas. Essa a razão por que Jesus se empenhou tanto em combatê-lo, como principal obstáculo ao progresso.

                 Neste mesmo evangelho, existem as respostas para as misérias humanas, onde o indivíduo encontra suporte para as suas provações, sem a necessidade de aniquilar o outro para o seu aperfeiçoamento moral. A maior prova do amor divino é dar uma nova oportunidade reencarnatória, pois a existência terrena oportuniza experiências necessárias para o aprendizado.

           Os direitos humanos não devem ser visto apenas como inibidor de guerras, como algo distanciado das pessoas. Mas como parte do cotidiano, considerando que todos são iguais diante das leis naturais, as de Deus. Posto isto, cabe salientar o direito a vida.

              Jesus convida ao amor: Ama ao teu próximo, como a ti mesmo. Quando a criatura se ama, aprende a amar o outro, posto que o reconhece como alguém igual a si. Desenvolvendo a percepção do todo e, por consequência respeitando os direitos individuais dos outros, que são interligados aos seus.

             O terceiro milênio é o convite a nos sobrepormos aos comportamentos preconceituosos, sairmos da mesmice e fazermos a diferença. Tirar a oportunidade dos anencefálos reencarnarem é voltarmos aos tempos do holocausto, decidindo quem deve viver, buscando a raça pura. Os tempos são de solidariedade, de esperança e consolo e ninguém que suja as mãos com o sangue de seu irmão, consegue consolo.

               Corpos perfeitos não equivalem à perfeição moral. A anencefalia de hoje, nada mais é que os defeitos morais de ontem. Portanto, ter cérebro para premeditar e impedir o processo evolutivo dos espíritos é construir anecéfalos, pelas leis da reencarnação. Portanto, tirar a trave do olho é o único caminho para a prerrogativa da vida.  

 

 

 

 

domingo, 16 de fevereiro de 2014

COOPERADORES DE DEUS

                                                    

                                     "Pois somos cooperadores de Deus". - Paulo (I Coríntios, 3:9)

                                                                                                              *Mariane de Macedo

                    A Doutrina espírita como consolador prometido pelo cristo tem como um de seus princípios básicos a reencarnação. Conforme a questão 167 do Livro dos espíritos:  Qual o fim objetivado com a reencarnação? “Expiação, melhoramento progressivo da Humanidade. Sem isto, onde a justiça?”.  Na Questão, 171. Em que se funda o dogma da reencarnação? “Na justiça de Deus e na revelação, pois incessantemente repetimos: o bom pai deixa sempre aberta a seus filhos uma porta para o arrependimento”.

                  Portanto, os homens são espíritos reencarnados pela necessidade de aprendizado, em corpos físicos. Entretanto o aprendizado só acontece através das sucessivas reencarnações as quais, todos estão comprometidos em seus projetos reencarnatórios. Este projeto é desenvolvido previamente na espiritualidade para o êxito na existência. Assim, comprovando a bondade divina para com todos.  “Antes de reencarnarem, na fase preparatória que experimentaram no Mundo Espiritual, tiveram o períspirito e o corpo físico planejado pelos técnicos em reencarnação no sentido de lhes ajustarem as estruturas, para que, no momento próprio, eclodissem ou se ampliassem as percepções extra físicas, iniciando-se a tarefa de intercâmbio espiritual. Para Manoel P. Miranda: Foram adestrados para o trabalho que ora desempenham, (...) apropriaram-se das ferramentas de que necessitam,...”.

                 De posse das ferramentas que necessita, o indivíduo não percebe o empenho de Deus, através das equipes espirituais, para que efetivamente obtenha êxito no projeto reencarnatório.  Recebe todo o tipo de auxilio, tais como: auxilio de seu anjo da guarda; frequência em ambientes espiritualizados através de encontros espirituais com aqueles que permanecem na espiritualidade e através dos sonhos tem pequenas lembranças, ou não, conforme a necessidade e, além disto, a família.

                O papel da família é fundamental no processo reencarnatório, para que o homem faça escolhas adequadas e, assim, evolua. Para Emmanuel: “De todos os institutos sociais existentes na Terra, a família é o mais importante, do ponto de vista dos alicerces morais que regem a vida.” Concordando Hermínio P. de Miranda salienta: “A família é, pois, um grupo que caminha, oferecendo mútuo amparo, revezando-se aqui na Terra e no Além, uns na carne, outros em espírito.”.

                 Na maioria das vezes, a família é formada para auxiliar os equivocados a se recuperarem dos erros morais, a repararem danos que foram causados em outras tentativas nas quais malograram. Em decorrência disto, a tomada de consciência por parte de pais e educadores é imprescindível, posto que através da infância o processo educativo torna-se mais efetivo. Toda a criança é uma massa de modelar, que se orientada com amor acata o apelo amoroso para este processo evolutivo. As crianças são seres que Deus manda a novas existências, dando-lhes aspectos de inocência. Nas questões 383 e 385 do Livro dos espíritos é enfatizado que “Nessa fase [infância] é que se lhes pode reformar os caracteres e reprimir os maus pendores” (385). “O Espírito, durante esse período, é mais acessível às impressões que recebe, capazes de lhe auxiliarem o adiantamento, para o que devem contribuir os incumbidos de educá-lo” (383).

                 O pai não cria o Espírito do filho, mas tem por compromisso auxiliar o filho em seu progresso moral e intelectual. Perceber os maus pendores e direcioná-los faz parte da tarefa de transformação moral deste espírito, que embora em corpo infantil, ainda carrega consigo tendências que necessitam de direcionamento.

                  Para obter êxito no projeto, Joanna de Ângelis assevera: “Gasta-te, como o combustível da luz, a fim de que haja claridade no caminho por onde segues, propiciando aos que vêm depois a facilidade do trânsito no rumo da sua gloriosa destinação,” (,,,)”(...) Não se pode, portanto, compreender a aceitação das lições espíritas sem a sua correspondente vivência: num comportamento  adequado às suas propostas iluminativas”. Fica evidente que a coerência entre o conhecimento e a prática são indispensáveis para que o exemplo permaneça sobre aqueles as quais o indivíduo se compromete. Se você sabe, o que fazes com aquilo que sabes?

                  Embora a tarefa seja árdua, o homem necessita se esforçar. Ter o conhecimento da imortalidade da alma, da reencarnação e entender o sentido da vida, abrindo uma possibilidade maior ao individuo, de êxito no projeto reencarnatório.  Quando conhece, escolhe melhor e assim pratica as lições que a Doutrina oferta. Libertando-se dos processos educacionais repressivos ou permissivos, que são os extremos, dando lugar para o caminho do diálogo.

                   O dialogo possibilita a criatura: 1°- Parar – diminuir o ritmo, interromper os comportamentos mecanizados; 2° - Ouvir – Saber o que o outro pensa e sente. Dar a vez para entender e compreender os parceiros (pais, filhos, cônjuges, amigos, colegas, etc.) de caminhada; 3°- Olhar – Ver não apenas com os olhos físicos as pessoas da convivência, mas acatar as intuições e ver com os olhos da alma as necessidades, as fraquezas e as virtudes alheias; 4° - Pensar - com a lógica espiritual para construir um pensamento reto e justo e, por último: 5° - Agir – de forma coerente sem maltratar os outros, mas visando ter atitudes educativas que mobilizem os educandos e abrindo sempre espaços para a conversa assertiva, franca e madura.

                Para Paulo, “somos cooperadores de Deus"; para assumir este papel é preciso lucidez, fazendo a reforma íntima para sair dos comportamentos equivocados. E, assim, em se melhorando, ser grato a Deus, servindo na causa do bem, como cooperador.

               Brilhe a vossa luz” – propôs o Mestre.  “Acendamos a claridade do amor incondicional em nosso mundo íntimo e deixemos brilhe a luz da misericórdia em toda a parte, irradiando-se de nós como bênção da vida em favor de todas as vidas.”
                                                 

 
Bibliografia:

Emmanuel, F.C. Xavier. “Vida e Sexo”, Ed. FEB

Joanna de Ângelis/D. Franco. Adolescência e Vida,

Joanna de Ângelis – - Libertação pelo sofrimento

Projeto Manoel P. Miranda - Vivência Mediúnica

Programação e condições encarnatórias para o êxito.

MIRANDA, Manoel P., Sexo e Obsessão.

Hermínio C. Miranda, “Candeias na Noite Escura”, Ed. FEB

 

  • Trabalhadora do centro Espírita Ismael Vivian Eillers – Caçapava do Sul
  • Psicóloga

A MULHER E O EVANGELHO


                                 

                                                         “Maria, cuida dos teus filhos do mundo” Jesus.
                                                                                                     *Mariane de Macedo

                               O ser humano adquire muitas crenças ao longo das existências. Muitas delas, inquestionáveis, impedindo a criatura de vivências mais tranquilas, respeitosas e fraternas. Entre estas, a certeza da inferioridade feminina, ainda na atualidade, persegue a homem materialista, que se comporta como se a sua superioridade estivesse no gênero e não na moralidade.

                                Certamente que é necessário viajar na história para entender esta construção que foi reforçada a cada época por figuras renomadas, que na sua maioria eram do sexo masculino.

                                Os gregos acreditavam que era o macho o rei da colmeia, no entanto é a abelha a rainha. Outra crença ancestral é de que o leão é o rei dos animais. Entretanto, a crença deixa de existir pelo fato de que é a leoa quem ataca para obter a comida para os filhotes. Assim, o rei da selva é dependente da leoa e, não ao contrário. Entre os insetos quem pica não é o macho e, sim, a fêmea que necessita do sangue para manter os ovos.

                             Já nas escrituras a mulher é responsável pela perdição do homem: É a mulher que faz Adão se perder e junto toda a humanidade; Ela é submissa porque sai da costela de Adão e não do ventre. Para a psicologia este é um mecanismo de deslocamento. A partir disto, muitas aberrações foram criadas em torno do sexo feminino:     Eclesiastes dizia: Que a mulher é uma coisa mais amarga que a morte; Um provérbio chinês: Uma mulher nunca deveria governar a si mesmo; Pitágoras afirmava que em cada dez mulheres existia apenas uma alma; O teólogo Tomás de Aquino considerava que a mulher era um homem incompleto, um ser ocasional.

                           Dadas estas circunstâncias a mulher vem a séculos lutando por um espaço na sociedade, ainda não alcançado. Em 1781 foi feita a declaração dos direitos da mulher pela pensadora Olympe Gauger, que fora guilhotinada em 1793, pela sua petulância. Além desta época na psicologia havia grandes mulheres que escreviam artigos científicos, mas que não lhes era permitido assinar-lhes. Eram apenas coautoras dos textos dos eméritos psicólogos que fizeram história do psiquismo humano.

                          Em 1848 acontece o movimento de emancipação feminina.  A partir disto a mulher passa de um extremo ao outro, na busca da igualdade, passando a ser uma paródia do homem, quando consegue se igualar nos vícios e não nas oportunidades.  Assim, a luta continua com as operárias da fábrica de tecidos em Nova York, que por fazerem greve e lutarem por seus direitos trabalhistas foram cruelmente mortas, após serem trancadas e incendiadas, morreram carbonizadas. Entretanto, somente foram reconhecidas em 1910 em uma conferência na Dinamarca, que instituiu o Dia Internacional da Mulher em homenagem as 130 tecelãs mortas. Mas somente no ano de 1975, através de um decreto, a data foi oficializada pela ONU.

                            Em 1857, no mesmo ano em que as tecelãs foram queimadas, Kardec, no Livro dos Espíritos - questão 817 questiona os espíritos sobre a igualdade de homens e mulheres, no que os espíritos respondem que homens e mulheres são iguais, pois ambos conhecem o bem e o mal. Portanto, iguais perante Deus, com as mesmas responsabilidades.

                            No Brasil em 24 de fevereiro de 1932 foi instituído o voto feminino. Após muitos anos de reinvindicações e discussões, conquistaram o direito de votar e serem votadas para cargos do legislativo e executivo.

                              Percebe-se que embora a mulher por séculos de repressão inicialmente tenha conseguido a igualdade nos aspectos negativos do homem, atualmente busca desconstruir esta deturpação assumindo o seu papel social.

                              Este papel já era reconhecido há muito tempo por um homem de olhos serenos, que falava por parábolas e compreendia bem a alma humana. Estava sempre rodeado de mulheres. No calvário, os homens fugiram, mas as mulheres permaneceram lá, a seus pés. E uma delas era presença constante. Chamava-se Maria, da cidade de Magdala.

                              E Divaldo Pereira Franco discorre sobre esta personagem:

                              “Era uma casa muito linda”. Um homem com suas vestes de mendigo batem incessantemente à porta. Um jovem serviçal vem atender e o velho mendigo diz: - Desejo falar a senhora. A serviçal abre o enorme portão de madeira e deixa-o em um pátio cercado de flores junto a um belo chafariz. A moça retorna dizendo: - Hoje a senhora não está atendendo e, riu-se dizendo: - Imagine só ela hoje desprezou a companhia de um rei e de um jovem e belo poeta, por acaso pensas que irá falar com velho mendigo. O velho ferido, humilhado alterou a voz e reafirmou: - Preciso falar à senhora. A mulher assustada entrou na intimidade da casa e quando chegou ao quarto de sua senhora deu-se conta de que o mendigo havia entrado junto com ela. O homem então começou a sacudir a senhora dizendo: - Senhora eu o encontrei, acorde senhora, eu o encontrei. A ovem ainda sonolenta abriu os olhos e deu-se com aquele velho desconhecido até então para ela, a gritar na volta de seu leito. – Senhora veja o meu corpo, olhe as chagas de meu corpo não existem mais. E aquele homem gritava dizendo. – Senhora eu encontrei Jesus de Nazaré, ele está aqui bem próximo, vai falar com ele senhora. A mulher então se lembrou daquele homem que ela havia encontrado há algum tempo atrás andava passeando com um de seus amantes quando foi abordada por um leproso que pedia: uma esmola, por favor, senhora, ajuda-me a ir ver Jesus. Ela então gargalhou e perguntou: - quem é Jesus? O homem leproso respondeu: - Dizem que ele cura as doenças de qualquer espécie, ajuda-me senhora. Ela então deu algumas moedas ao mendigo e disse-lhe: Se ele te curar venha me dizer para curar as doenças de minha alma. E saiu rindo-se. Esta foi à segunda vez que havia ouvido falar do Messias, pois a primeira vez foi quando tinha apenas quinze anos. Andava em Jerusalém quando pelos caminhos da vida escutou um profeta a contar estórias na porta do templo dizendo: - Dia virá em que dores e feridas aliviarão e cicatrizarão com a chegada do Messias. Maria havia tido uma desilusão amorosa, encontrou aquele que a enchera de promessas e sonhos, ela apaixonou-se e entregara-se no seu sonho de menina a um homem que ontem era só amor e ternura, mas que ao acordar já o desconhecia, pois partira sem deixar vestígios. Ela chorou, revoltou-se e desde este dia tornara-se uma meretriz de luxo. E ficou conhecida como Maria de Magdala, entregava-se a luxuria a noite, e ao desencanto ao amanhecer.  O mendigo novamente fala: - Vamos senhora ele está aqui em Cafarnaum bem próximo de Magdala, ele a espera. A mulher tomada de esperanças pergunta: - Mas eu sou uma pecadora, ele me receberá? – Sim Senhora, ele diz que são os doentes que precisam de médico. Maria com o coração cheio de esperanças pede a serviçal para chamar o barqueiro e em pouco tempo à luz do luar ilumina um mendigo, um barqueiro e uma meretriz. Após uma hora de viagem chegam os três a beira da praia de cafarnaum. O mendigo então aponta – Veja senhora é naquela casa. Vá ele a espera. Chegando à porta da casa a meretriz para e consegue pela claridade da lua observar a silhueta daquele homem, belo e sereno.  Jesus então se vira e com a voz doce diz: - Venha Maria. A mulher emocionada atira-se aos pés do mestre, dizendo: Rabone, tu sabes o meu nome? – Sim, Maria o bom pastor conhece todo o seu rebanho. – Mas o senhor sabe quem eu sou? Sabe que sou uma mulher de má vida? – ó Maria o bom pastor é aquele que não descansa enquanto não encontra todas as ovelhas desgarradas. – Vá Maria, cuida dos teus filhos! – Mas eu não tenho filhos senhor, nunca pude ter filhos. Eu quero entregar a minha vida a ti senhor. – Maria, o tempo certo eu te pedirei o testemunho. Vá e cuida dos teus filhos, do mundo. No outro dia a cidade de Magdala acorda com a notícia que Maria de Magdala havia enlouquecido. Deu tudo o que tinha, jogou pela janela roupas e joias. Entregou a sua casa para os que não tinham teto e saiu só com a roupa do corpo e um jarro de bálsamo. A partir daquele dia onde estivesse Jesus, apareci a no meio da multidão aquela mulher. Quando Jesus foi para o calvário, Maria agora Madalena estava lá e quando o mestre morreu, Maria de Nazaré sua mãe chorou abraçada em Maria Madalena a antiga pecadora. E foi para ela que Jesus apareceu – Não me toques! Eu ainda não subi ao meu pai, vai e avisa aos outros. Eles não acreditaram. Somente sua mãe Maria de Nazaré. Após a morte separaram-se os discípulos e não quiseram levar Maria Madalena. Assim, começou sua missão no vale dos leprosos que foram os seus filhos do mundo, como lhe dizia Jesus. Maria de Madalena morreu nos braços de Maria de Nazaré, mãe de seu mestre Jesus. “E, quando, em espírito, despertou Jesus a esperava de braços abertos”.

                                Esta estória reabilita a mulher, que faz a transformação moral pelos caminhos do amor, posto que o sentimento modela a alma, transformando-a. As más interpretações judaico-cristãs deram punições a mulher fazendo-as submissas e pecadoras. As adulteras eram apedrejadas e, Jesus questionava onde estavam aqueles que as adulterou. Demonstrando que independente da vestimenta carnal, todos são responsáveis pelas escolhas, buscando a justiça nos comportamentos, não apenas das mulheres. Trazendo a tona à conduta masculina, que as subjugavam e posteriormente adulteravam os fatos.

                              A superioridade do espírito não está no gênero e sim na sua condição moral. A mulher de hoje poderá amanhã habitar um corpo masculino se for preciso para sua evolução espiritual, pois o espirito não tem sexo. Leon Denis diz que: “O homem e a mulher nasceram para funções diferentes, mas complementares. No ponto de vista da ação social, são equivalentes e inseparáveis”. Entretanto, com a sensibilidade feminina, necessária para carregar o filho no ventre, a mulher conta com a mediunidade como contributo na sua existência.

                             Já na antiguidade a sensibilidade feminina era conhecida, e usada nos templos. As pitonisas permaneciam atrás das cortinas, fazendo previsões que eram atribuídas aos profetas.

                            E esta é uma das missões da mulher, de profetizar e, também, de amar. Utilizando da mediunidade para ser mediadora das almas sofredoras. Ajudando-as, qual mãe na sua evolução espiritual através do amor.  E por isto, o Cristo disse a Madalena – Maria cuida dos teus filhos do mundo!

                           Depois do encontro com Jesus a vida de Maria de Magdala se transformou e, Madalena assumiu o compromisso com o Mestre. Muitas mulheres ainda não tiveram a possibilidade deste encontro com o Messias, e ainda permanecem utilizando o corpo e a sensualidade como meio para atingir seus objetivos. A busca do prazer desmedido, equivalendo-se ao homem transviado, sem objetivo algum.  A renúncia das imperfeições morais é imprescindível para a evolução espiritual da criatura, que está ao alcance de todos, pois o virtuoso de hoje é o vicioso de ontem.

                          Assim para aquelas que já acordaram e remaram de Magdala em direção ao Mestre, assumir o seu papel junto ao Evangelho de Jesus, como outrora, é inadiável. Não com agressividade, revanche e competição, mas com amorosidade e compromisso.

                          Compromisso assumido na praia de Cafarnaum, cujas únicas testemunhas foram à luz do luar e Jesus.  Que todas as Marias de hoje, relembrem este chamado, arregacem as mangas e iniciem o cuidado com seus filhos do mundo, debruçadas no evangelho rumo à regeneração.

 

  • Psicóloga

Novo e-mail: marianedemacedo@hotmail.com