quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A PSICOLOGIA DO EVANGELHO


“Não te peço que os tire do mundo, mas que os livres do mal”
João, 17:15
Mariane de Macedo

Joanna de Ângelis considera Jesus como terapeuta, que oportunizou através de seu Evangelho, as diretrizes para uma vida equilibrada, salientando que o indivíduo que se utilizar desta terapêutica poderá vencer as vicissitudes galgando melhores condições evolutivas.
Terapeuta por excelência soube ver o lado luz das criaturas investindo na potencialidade individual de cada um. Assim chamou seu colégio apostolar: Mateus, o publicano coletor de impostos que tinha uma vida dissoluta. Simão, a quem acrescentou o nome de Pedro, pescador simples com poucos recursos intelectuais, Às vezes, intempestivo como no posicionamento diante do exército romano, quando decepou a orelha do soldado Malcon, no horto, colocando a vida de todos em perigo; João, com arroubos da juventude, onde o próprio mestre chamava-o, junto com seu irmão Tiago, de “Boanerges” ou filhos do trovão; Judas Escariotes, de todos o que mais condições culturais apresentava. Jamais fora repreendido pelo mestre, era o tesoureiro do grupo e preocupado com as causas sociais, além destes André, irmão de Pedro; Tiago, irmão de João, Filipe e Bartolomeu, Tomé, Tiago, filho de Alfeu e Simão chamado Zelote; Judas, filho de Tiago.
Jesus soube perceber, no dizer de Joanna de Ângelis: “que como terapeuta rompeu as barreiras da personalidade dos pacientes e penetrou-lhes a consciência”, que aqueles homens eram como a pedra bruta, que precisa ser lapidada. Buscou construir um grupo, que não apresentava as viciações dos fariseus e, em três anos preparou-os para que dessem continuidade ao seu evangelho de amor, investindo no Ser essencial de cada um.
O self, Ser essencial, que é o centro da Consciência, onde estão fixados todas as características positivas e os valores reais do indivíduo. Ou seja, nosso lado luz, amoroso, bom e belo, é a Essência divina que somos. Conforme o Livro dos Espíritos, na questão 88, “O espírito é, se quiserdes, uma chama, um clarão, ou uma centelha etérea”. Quando estimulado este campo eletromagnético pode se expandir, mas quando o ego se sobrepõe, a essência fica inibida.
O Ego, que é a camada de ignorância que envolve o Ser Essencial (essência), onde ficam registradas todas as experiências equivocadas. É o EU menor, inferior. E pode ser utilizado pelo indivíduo como negatividade ou máscara do ego, segundo Alírio Cerqueira.
Para o autor acima citado, Negatividades do EGO são as energias que se originam do desamor, que é a ausência de amor por si mesmo. Existem enquanto os indivíduos não se dispõem a cultivar os reais VALORES. Permanecendo ainda nos campos do ódio, egoísmo, orgulho, revolta, raiva, mágoa, ressentimento, angustia, depressão, ansiedade, desespero, medo, pânico, violência, cólera, ciúme. Mas à medida que o homem percebe os seus equívocos e busca a transformação moral, amplia as energias do SER essencial, em decorrência desses sentimentos serem transitórios. O maior exemplo que o evangelho nos oportuniza é a passagem de Saulo de Tarso, que perseguia os Cristãos sem piedade. Sendo artífice na execução do primeiro mártir do cristianismo, Estevão. No entanto, ao encontrar-se com O Cristo, na estrada de Damasco percebeu o equivoco e perguntou a Jesus: “Senhor, o que queres que eu faça?” Demonstrando o arrependimento sincero e de imediato, buscando a reparação. A partir deste episódio foi fiel ao Mestre até o final de seus dias, como Paulo de Tarso.
Já nas máscaras do EGO, encontramos a parte disfarçada, onde o ego lança mão dos seus instrumentos de defesa e fuga. Originam-se do pseudo-amor, ou seja, do falso amor, onde o indivíduo consciente ou inconsciente dissimula as negatividades do EGO. Ao acreditar-se correto, perfeito a criatura disfarça o comportamento com sentimentos aparentemente positivos, como a euforia, autopiedade, perfeccionismo, pseudoperdão, martírio, puritanismo. Dificultando a sua reforma íntima, em decorrência de não admitir os erros. E Judas Escariotes é a representação desta figura mascarada. Na convivência com o Mestre era moderado, dosado, discreto, equilibrado e sensato. Não há indícios de que tenha sido agressivo e não há passagens de ter sido repreendido por Jesus. Mais eloqüente e polido dos discípulos, mostrava preocupação com causas sociais e agia silenciosamente. No entanto, ao perceber seu equívoco, não conseguiu enfrentar a própria realidade e sucumbiu.
O Evangelho mostra o olhar do Mestre, que sabia da necessidade de investimento no potencial individual de cada um. E, assim, encontram-se aqueles que foram chamados, com os seguintes resultados. Mateus, o publicano: Escreveu o primeiro evangelho - a fonte que deu origem aos demais. João, o mais jovem: Companheiro permanente de Jesus e após a sua morte de Maria. Autor do Evangelho, de Epístolas e do Apocalipse. O evangelho de João é o mais espiritualizado, revelando Jesus como o Verbo Divino, entre homens. Pedro, o pescador: Identificou Jesus como o “Messias, filho do Deus vivo”. Líder e participante ativo do círculo interno de Jesus morreu em Roma, crucificado de cabeça para baixo, a seu pedido.
Todos são chamados, mas não ainda escolhidos, pela predominância do ego, em detrimento da essência. Embora com o tratado de psicoterapia, o viver no mundo ainda não é para o homem invigilante, um processo de aprendizado. Posto que o próprio Jesus diz: “Não te peço que os tire do mundo, mas que os livres do mal” João, 17:15. Não pediu ele a Deus que tirasse o homem do mundo, pela necessidade de evolução, mas que os livrasse do mal. No entanto, para que permaneça livre do mal, o homem necessita de disciplina, vencer a si mesmo, e buscar relacionamentos mais assertivos, para que o Ser essencial se expanda e exista a transformação a qual Jesus acreditou ser possível. Os apóstolos chamados eram imperfeitos e, posteriormente, como escolhidos para falarem em seu nome, reformados.
Os espíritas ainda são os pescadores, publicanos e Boanerges, com muitas imperfeições morais, que embora não contando mais com a presença física do Mestre, permanecem com o consolador por ELE prometido. Jesus acreditava na transformação das criaturas, posto que seus seguidores devam, por certo, buscá-lo como modelo e guia. E, permanecendo na tarefa com a mesma terapêutica, a plantar as boas sementes e auxiliando no “livrai-os do mal”, lembrando que a colheita é de Deus.

Bibliografia:
ÂNGELIS, Joanna - Vida Desafios e Soluções – Salvador, BA – Liv. Espírita Alvorada. 1997 – pag. 102.
CERQUEIRA, Alírio - Psicoterapia à luz do Evangelho de Jesus - Editora Bezerra de Menezes, 2004. Pag. 30.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 119. Ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. Cap. I, item 5, p 56-57 e cap. V, item 24.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Salvador Gentille, revisão de Elias Barbosa. Araras, SP, IDE, 166ª. Edição, 2006. Cap.IV, Q. 167, p 104. – Cap. XI- Livro III – Cap. I, Q. 621, p. 258.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

QUAL TEU OBJETIVO?

Mariane de Macedo

A doutrina espírita em seus princípios básicos nos deixa claro que: Somos espíritos imortais; que reencarnamos para evoluir; que podemos nos comunicar com os desencarnados; que existem outros mundos, dos quais poderemos aportar se evoluirmos; mas o principal é que tudo isso, sem a causa primária de todas as coisas, que é Deus, seria impossível as demais. No entanto, mesmo de posse destes conhecimentos, ainda não conseguimos organizá-los com a devida urgência, que a existência nos convida.
Deus sendo a causa primária de todas as coisas, planejou para que tudo funcionasse de maneira organizada, por que ele tem um objetivo. Ou seja, na nossa compreensão humana observamos que usou de uma metodologia, para que seus objetivos fossem alcançados com início, meio e fim, ou finalidade. E assim, as leis naturais se organizam de tal forma, que cada vez que tentamos contra a natureza, ela nos responde através das mais variadas formas. Portanto, será que nós, que somos os seres inteligentes criados por Deus, também não deveríamos fazer a nossa própria organização, para chegarmos a nossa finalidade?
Quando estudamos Metodologia científica na faculdade aprendemos a fazer projeto. Neste projeto seguimos um modelo, que geralmente vem assim: Identificação do Projeto; justificativa; objetivos; metodologia e avaliação. Se pegássemos emprestado da metodologia este modelo e colocássemos nas nossas vidas, quem sabe tudo ficaria mais claro. Vejamos essa proposta.
O que acontece é que a maioria das pessoas, ao não colocar no cotidiano os princípios básicos, se divorcia da realidade espiritual e esquece a finalidade de Deus para conosco. Que ELE, não nos criou para sofrermos, mas para o contrário, sermos felizes. No entanto, quando o projeto de Deus, cuja identificação é o nosso nome, a justificativa da existência deste projeto (nós) é porque ele nos ama e quer nos dar mais uma oportunidade de acerto. Com qual objetivo? Evolução, especificamente: oportunizar situações que nos estimulem a mudança. E para isso não há necessidade de sabermos se fomos reis ou rainhas no passado, pois basta observarmos quais as lições que estão nos pedindo repetição, tais como: humildade, tolerância, paciência, fraternidade e outras tantas. Mas, ainda que, não observássemos a nossa volta, mas que usássemos a lógica, não existe evolução sem mudança de comportamento. E a metodologia, ou seja, como vamos realizar este projeto. De que forma a Maria vai viver para que ela possa cumprir com seu objetivo de evolução. Se quiser evoluir deverá ter uma vida dentro de princípios do bem, do amor, do reconhecimento do outro. No entanto, quando se esquece de seus objetivos de evolução, qualquer metodologia serve. Pode inclusive deixar para a próxima existência, como preconiza o preguiçoso. Mas neste caso, já não poderá reclamar na hora da avaliação.
E é exatamente na hora da avaliação dos resultados, que as pessoas se dão conta dos sofrimentos, e se queixam de Deus, dizendo que ELE as abandonou, quando na verdade foi escolha do indivíduo permanecer a deriva. Quando há dedicação continua na busca dos resultados, a providência divina está sempre ao nosso alcance. “Dar-se-á aquele que tem”, posto que DEUS seja Pai, ama e deseja que nossa existência dê certo. Assim sendo, nos oportuniza os meios para obtenção de êxito, como: Conhecimento da doutrina, exercício nas sociedades espíritas, no movimento, a prece, a fluidoterapia, a família. Mas principalmente o conhecimento do Evangelho de Jesus, que é o nosso tratado de psicoterapia, segundo Joana de Angelis, onde Jesus é nosso terapeuta.
Então, será que o que nos falta, não é fazermo-nos a seguinte pergunta. Qual o teu objetivo? Ao fazermos uma pergunta, conseqüentemente obteremos uma resposta. Quando falas com alguém, qual teu objetivo? Comunicar-te. Quando sorri, qual teu objetivo? Ser simpático. Quando tu ficas furioso, qual teu objetivo? Brigar; Quando tu bebes, qual o teu objetivo? Embriagar-te; Quando grita, qual teu objetivo? Agredir; Quando vêem erro nos outros, qual teu objetivo? Projetar, te defender; Quando mente, qual teu objetivo? Enganar. E assim por diante, pois é importante pensar sobre as respostas que vamos evocar do meio, quando temos um objetivo, mesmo que seja velado, não percebido aos olhos dos outros, mas percebidos pela consciência, porque toda ação gera uma reação. Assim a causa das nossas dores não é desconhecida. Enquanto persistirmos em nos desviar do nosso objetivo de evolução, utilizando metodologias contraditórias, as nossas avaliações serão sempre de solidão, desamparo e depressão. Uma vez que é incoerente ter um objetivo do bem e não perdoar o irmão, é incoerente servir a Deus e caluniar, Desejar a paz e pregar a discórdia.
Assim, a proposta de analogia do ser humano com um projeto, não é uma maneira de burocratizar os indivíduos, mas de oportunizar a reflexão sobre o que estamos fazendo por nós mesmos. Afinal, somos todos projetos de DEUS.
BIBLIOGRAFIA:
ANGELIS, Joana - Vida Desafios e Soluções – pg. 102 – ANGELIS, Joana - O Ser consciente –
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 119. Ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Salvador Gentille, revisão de Elias Barbosa. Araras, SP, IDE, 166ª. Edição, 2006.

domingo, 11 de julho de 2010

A ASSERTIVIDADE DE JESUS


“Que seja o teu dizer, sim, sim, não, não”-Mt 5,33-37

Mariane de Macedo

Com a chegada do terceiro milênio há uma expectativa diante do processo de regeneração, onde o convite a transformação moral se faz presente e inevitável, com perspectivas diferentes que oportunize através da reflexão a busca de novos objetivos, que faça coerente este homem de bem. Nesta máxima de Jesus, percebemos que Ele assevera, sobre a necessidade de atitudes mais objetivas e verdadeiras, sem informações dúbias. Onde o individuo possa se posicionar, sem preocupações com críticas ou perda de afeto. Com certeza, Jesus já falava de assertividade, ou seja, de uma comunicação de forma clara e objetiva, visando resultados mais verdadeiros.
Carlos Augusto Abranches (2001), diz que a era da comunicação exige atributos indispensáveis ao homem, para que tenha competências novas e eficientes, visando interagir de maneira mais profunda e produtiva com os outros e a natureza. Verifica através da proliferação de técnicas de controle mental; Cursos de línguas estrangeiras e oratória, através dos profissionais de “marketing” das grandes empresas. Para estas, quem não aprende a se comunicar está fora do mercado de trabalho. O candidato ao ser entrevistado deve demonstrar suas habilidades sociais, e estar desacompanhado da conduta arrogante e vaidosa. Entretanto, as empresas não querem apenas um currículo abarrotado de cursos, mas um funcionário que saiba: Conversar construtivamente com os colegas, que seja polido, cordial, com bom-humor, equilíbrio, humildade, que tenha metas definidas de crescimento, ou seja, com autoestima, visto que, estas posturas interferem positivamente na relação com o cliente. Além disto, o autor informa que foi verificado, que aquelas pessoas que se dedicam a trabalhos voluntários, apresentam a chamada taxa de bondade social, pois desenvolveram valores como: Tolerância; paciência; capacidade para lidar com as frustrações sem perder o equilíbrio. Portanto, apresentam maiores habilidades sociais para estarem à frente das empresas, na solução de dificuldades, especialmente com o os clientes mais exigentes. Pois que, consideram não como problemas o cotidiano, e sim, como desafios as rotinas laborais.
Se o mundo capitalista já se deu conta de que é necessário mudar a forma de comunicação, com os outros, para poder mantê-los no convívio, é certo que com objetivos específicos de manter uma relação lucrativa, mas ainda assim, buscando soluções para alcançar os resultados desejados. Será que no movimento espírita, a comunicação é clara e objetiva? Os papéis exercidos visam o bem comum e, não apenas o bem pessoal? A caridade pregada é a mesma da “Taxa de Bondade Social”?
Maria Julia Ribeiro (1990) em sua pesquisa sobre assertividade diz que estes estudos tiveram inicio com os psicólogos Wolpe e Lazarus, que buscavam fazer uma distinção sobre asserção e agressão. A palavra assertividade era inexistente na língua portuguesa, e foi introduzida pelos terapeutas comportamentais. Na sua tradução, to assert significa “declarar ou afirmar algo de maneira positiva, direta e vigorosa”. A definição do termo auxilia a entender que essas condutas estão ligadas as habilidades sociais e comportamentos verbais, ou seja, à comunicação.
O comportamento assertivo é definido por Alberti & Emmons (1983) como “aquele que torna a pessoa capaz de agir em seus próprios interesses, a se afirmar sem ansiedade indevida, a expressar sentimentos sinceros sem constrangimento, ou a exercitar seus próprios direitos” (p.18). “Cada pessoa tem o direito de ser e de expressar a si mesmo e sentir-se bem (sem culpas) por fazer isto, desde que não fira seus semelhantes no processo”. A pessoa assertiva deve ser entendida como alguém com características específicas de repertório comportamental e não como uma criatura com determinados traços de personalidade ou dons apropriados para este modo de agir. No sentido real assertividade é uma classe de respostas e não uma estrutura mental. Portanto, alguns estudiosos que definiram algumas características da pessoa assertiva, pontuam que nenhuma é mais importante que a outra, mas que valem como um caminho para ter ações assertivas. São elas: Habilidade de dizer não, habilidade de pedir favores, habilidade de expressar sentimentos, habilidade para iniciar, continuar e encerrar diálogos, respeito aos sentimentos dos outros, expressão e enfrentamento de limitações pessoais, duração da resposta, volume da voz e afeto.
O comportamento assertivo é emocionalmente honesto e de maneira apropriada, o comportamento agressivo é emocionalmente honesto, porém inadequado e, o comportamento não-assertivo é desonesto emocionalmente. Enquanto as condutas assertivas e agressivas são expressivas a não assertiva é inibida e auto-depreciadora; a assertiva é auto-fortalecedora, a agressiva também é só que à custa de quem está sofrendo sua ação – O receptor. O indivíduo que se manifesta de forma não-assertiva sente-se magoado e ansioso na hora da atitude e, às vezes com raiva e ressentimento depois. O assertivo sente-se confiante e auto-respeitado. O agressivo sente-se superior na hora e possivelmente culpado depois.
Para entender as relações que se estabelecem do comportamento assertivo é importante verificar como fica quem recebe a ação: Diante do não assertivo, o receptor sente culpa ou superioridade. Diante de um assertivo sente-se valorizado e respeitado. E quando é alvo de um comportamento agressivo, sente-se magoado e humilhado. O sentimento que o receptor tem pelo emissor da conduta não-assertiva é de irritação, desgosto e pena. Pelo emissor do comportamento assertivo, sente respeito. Já pelo emissor do comportamento agressivo o sentimento que desperta é de raiva e desejo de vingança.
Mas porque a maioria das pessoas não é Assertiva? Uma das explicações, segundo Abranches, que é em decorrência de ansiedade e de crenças inibidoras da conduta assertiva. E uma das resistências exemplificadas pelo autor é de movimentos de conteúdos religiosos, que resistem às pessoas assertivas, considerando-as anticaridosas, quando expressam suas opiniões e conceitos. Cita, ainda, que a assertividade muitas vezes é abafada por supostas atitudes de humildade, a se expressar sorrateiramente na não resposta diante de uma situação de desconforto ou possível desaprovação dos companheiros de atividade. Ressalta que é evidente que quando alguém fala, sem reservas, causa desconforto a quem ouve e, que o mecanismo de defesa presente é o de reação. Por essa razão, Kern (1982) investigou que a pessoa assertiva acrescenta a suas considerações a empatia, conseguindo moderar os efeitos negativos da asserção.
Outro fator que leva o indivíduo ao comportamento não-assertivo são algumas crenças irracionais, tais como: 1) Rejeição Pessoal, que diz respeito à crença que alguém deve ser amado o tempo todo, por todos os quem julgue importante, ou seja, incondicionalmente; 2) Competência Pessoal: Que alguém deve ser perfeitamente capaz, sempre, adequado e competente. (3) Noção de Justiça: A vida como uma grande tragédia, se não segue o curso das expectativas da pessoa, o mundo desaba. A incompreensão e a injustiça vistas como catástrofes das quais a criatura sempre é vítima. Neste caso, o autor finaliza, dizendo que: Pode-se inferir, com base nestas crenças nocivas à felicidade das pessoas, que a assertividade pode ser prejudicada pelo isolamento social ou pelas queixas amargas sobre os outros e sobre o sentimento de desamparo.
Ao fazer uma analogia sobre os pressupostos dos autores citados, com os princípios básicos da doutrina espírita, fica a constatação de que a filosofia espírita apresenta as respostas ao indivíduo, no entanto, não há coerência entre a teoria e a vivência. Na questão 132. LE, os espíritos respondem a Kardec, que o objetivo da encarnação é a evolução. Portanto, terá a criatura ajustes a fazer com aqueles dos quais irá conviver. Entretanto, esse conhecimento teórico, adormece quando o ser reencarnado permite que a crença de rejeição pessoal, se instale no psiquismo, ditando normas de comportamentos, sem juízo de valor. Pois que, espíritos imperfeitos, estão sujeitos a não serem amados incondicionalmente, e é exatamente para reverterem esta situação e desenvolverem estes afetos que receberam a oportunidade da vida. Além disto, a crença de Competência Pessoal faz do indivíduo um ser superior, onde errar não pode fazer parte de sua condição humana. E ao sentir-se infalível, passa a exigir dos outros, comportamentos irrepreensíveis. Comporta-se como um verdadeiro neurótico, ou é Deus, ou não é nada. Contrariando, novamente os pressupostos da doutrina, que demonstra que o uso do livre-arbítrio, torna a pessoa mais consciente pelas suas escolhas. Onde a criatura não necessita um juiz implacável, para que suas ações sejam corretas, posto que, entende que é na consciência, que está à maneira de proceder. (Q. 621 – LE). E por último, a Noção de justiça, onde a vida é vista como uma grande tragédia, não a oportunidade de evolução. O indivíduo que percebe apenas lado negativo está doente, sendo que as dificuldades cotidianas fazem parte do aprendizado. Nenhum aluno que vai a sala de aula aprender, sai desta, sem ser avaliado. Como que o professor terá certeza de sua assimilação se não houver prova. Quando o homem passa por situações contrarias as suas expectativas, necessita lançar mão de suas habilidades para que consiga ter uma postura mais condizente. Portanto, quem compreende a doutrina espírita, sabe que Deus é justo e, sendo este Pai, não permite que seus filhos vivam no desespero. Neste caso, cabe a utilização do atributo da inteligência para uma melhor reflexão, pois nos ensinamentos do Cristo, bem como agora sem véu, na codificação, esses pressupostos que a ciência denomina já estavam lá.
Em relação à assertividade ser anticaridosa, encontramos no ESE cap.XV-item 6. Necessidade da Caridade segundo São Paulo, onde de forma poética diz que: “A caridade é paciente; é branda e benfazeja; caridade, não é temerária, nem precipitada; não se enche de orgulho; - não é desdenhosa; não cuida de seus interesses; não se agasta, nem se azeda com coisa alguma; não suspeita mal; não rejubila com a injustiça, mas se rejubila com a verdade; tudo suporta tudo crê, tudo espera, tudo sofre. Após essa assertiva de Paulo, ser claro e objetivo com os companheiros de jornada é um ato de caridade, posto que a caridade não é orgulhosa, não deve servir para humilhar ninguém. Não é temerária, logo deve servir como um ato de coragem, pelo bem comum. Não suspeita mal, ou seja, não fica na suposição, mas esclarece com o companheiro, visando à solução da problemática. Não se rejubila com a injustiça, quando não permite que as pessoas fiquem com comentários maldosos, em relação aos outros, posiciona-se em relação ao que está sendo alvo de injustiça não permitindo a impregnação de um ambiente maldoso. Se rejubila com a verdade, não com o escândalo, visto que, quando se esclarecem as dúvidas, muda a sintonia dos pensamentos e os equívocos são desfeitos. Tudo suporta tudo crê, tudo espera, tudo sofre, ou seja, quantas vezes ao esclarecer e nominar os fatos, mesmo de forma empática, os que ainda não conseguem compreender, se afastam. Mas, a caridade tudo crê, e se é justo e verdadeiro o objetivo, mesmo sofrendo, espera. Anticaridoso é deixar que os companheiros de caminhada, que estão no mesmo lar, sociedade, trabalho, instituição religiosa, e não é por acaso, permaneçam num comportamento fariseu, embora no século vinte e um. E isso, explica o porque que o maior psicólogo e modelo e guia. LE. Q.625 – Jesus, já chamava a atenção sobre a Verdadeira Pureza (ESE-Cap.VIII-ítem.8). “o que sai da boca procede do coração e é o que torna impuro o homem; ...Ou seja, qual o objetivo ao falar com agressividade, ou não assertivamente? Onde se quer chegar? Esta foi a preocupação de Wolpe e Lazarus, de fazer a distinção entre asserção e agressão. É importante falar, mas utilizando um método para que da comunicação, não respingue as imperfeições morais do emissor, para que o receptor se sinta respeitado, motivando-se a vencer a si mesmo.
Portanto, se as causas que levam o indivíduo a não ser assertivo, são as crenças arraigadas, quando é que acontecerá esse despertar para a realidade espiritual. De onde viemos? O que estamos fazendo aqui? E para onde vamos? A maioria sabe responder as duas primeiras perguntas, no entanto, a última só saberá responder aqueles que buscarem na sua transformação moral, a passagem para um mundo melhor. E, aqueles que ainda não sabem responder a última pergunta, podem lançar mão da comunicação assertiva, como um instrumento de reforma íntima, posto que é algo que pode ser desenvolvido. Basta que o indivíduo consiga se colocar no lugar dos outros e vai entender quais os sentimentos despertados nestes, quando as condutas não são assertivas. Quando a pessoa se responsabiliza pelas respostas que evoca do meio, sabe que para toda a ação, existe uma reação. Somente com a renovação de condutas, o trabalhador espírita, iniciará o caminhado rumo à regeneração. E para isso, o Consolador Prometido por Jesus vem aclarar o caminho, para que o nosso dizer seja tão assertivo, quanto o do mestre. “Que seja o teu dizer, sim, sim, não, não”



BIBLIOGRAFIA:

DELL PRETTE, Zilda A. P. Psicologia das Habilidades Sociais-. Ed. Vozes

KARDEC, Allan – O Evangelho Segundo Espiritismo – 1 ed. Porto Alegre, RS: FERGS -2006.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Salvador Gentille, revisão de Elias Barbosa. Araras, SP, IDE, 166ª. Edição, 2006.
RIBEIRO, Maria Julia. Assertividade: avaliação e desenvolvimento entre universitários. Tese de doutorado da Universidade de Taubaté, SP - 1990
SCHUBERT, Suely Caldas org.- Visão Espírita para o Terceiro Milênio- Cap. II- pag. 17. Casa Editora Espírita “Pierre-Paul Didier, 2001

PAULO, UM SILÊNCIO BARULHENTO

“Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém”
Paulo (I Corintos 6:12)


Mariane de Macedo

Quando nos reportamos a essa afirmativa de Paulo, de imediato pensamos em autocontrole. Palavra esquecida em uma sociedade imediatista, que tem muita pressa e, busca viver o ter, em detrimento do ser. Na ânsia de adquirir coisas e representar papéis, para ser aceito e admirado, o indivíduo se propõe as mais torpes situações. E fatalmente, quando não alcança, tenta aplacar o sofrimento fugindo de si mesmo. Em algumas circunstâncias colocando a sua vida, e de outros em risco, utilizando-se das mais variadas formas, ingestão abusiva de substâncias psicoativas, alta velocidade e outros.
Um dos períodos em que mais observamos estes desvios de comportamento é no carnaval. Com a justificativa de diversão, tudo é permitido e as pessoas extravasam aquilo que ficou contido durante o ano. Carentes de valores morais os indivíduos vão se permitindo massificar, sem fazer juízo de valor, onde muitas vezes se sentem agredidos, seguindo determinados comportamentos, mas não tem coragem de descontentarem o outro, pelo sentimento de menos valia. Conta-se que ser vez estavam pai e filho, ambos a cavalo, seguindo numa estrada de terra. O filho querendo mostrar ao pai que estava absorvendo todos os seus ensinamentos parou o cavalo e disse ao pai: - Pai lá longe vem uma carroça. E o pai carinhosamente respondeu: - Vem sim, meu filho! Você acertou. E vem vazia. O menino espantado perguntou. – Como você sabe? – é que quanto mais vazia, mais barulho faz. Em decorrência disto, a criatura vazia, busca estratégias fugidias, fazendo muito barulho.
Portanto, para que o indivíduo possa ter a postura proposta por Paulo, precisamos lançar mão de algumas teorias sobre o comportamento humano. Assim, não podemos falar em valores morais, sem falarmos em ética. Mas, o que significa ética? No dicionário encontramos quatro definições: - Teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade; - Morada dos animais, lugar onde eles costumam retornar a querência; - Ciência da conduta e parte da filosofia que aborda os fundamentos da moral. Além disto, na história da ética, alguns pensadores da antiguidade como Sócrates com o conhecido jargão do “Conhece-te a ti mesmo”, afirmava que o homem age reto, quando conhecendo o bem não pode deixar de praticá-lo. Aspirando ao bem sente-se dono de si mesmo e, por conseqüência é feliz. Para Platão com a idéia do Sumo Bem, dizia que as virtudes intelectuais e morais deveriam andar juntas, pois muito se assemelham. E Aristóteles ressaltava que o pensamento é elemento divino do homem e seu bem mais precioso. Destacando que a verdadeira felicidade é conquistada pela virtude. Valorizava a vontade, o esforço, e a busca dos bons hábitos e para a auto-educação supõe um esforço voluntário.
Posteriormente outros autores como Jean-Paul Sartre, que não acreditava na existência de Deus e, assim, não existindo Deus a vida é um compromisso constante, o homem é que escolhe. Em decorrência disto, ninguém é vítima das circunstâncias e o que vale é seu esforço. Já Urie Bronfenbrenner sustenta em sua teoria ecológica, que o homem é uma entidade dinâmica está sempre em crescimento. Afirma que o homem vive em vários microssistemas que são: 1° Microssitema: A família; 2°Mesossitema: A relação dos dois sistemas a família e a escola; 3°Exossistema: Quando a pessoa é afetada pela vivência de outro individuo em um ambiente em que estava. Ex: Filho foi para o carnaval e chegou a casa onde os pais dormem e os acorda. 4°Macrossitema: ambiente social e cultural, ou seja, ambientes sociais maiores. O autor continua, dizendo que quando sabemos da existência destes ambientes conseguimos percebê-los de maneira diferente. Toda vez que o individuo tem uma ação ele evoca uma resposta do ambiente. Assim, a pessoa que compreende que as respostas dadas pelos ambientes são conseqüência do que foi oferecido, oportuniza a criatura de fazer escolhas sobre suas atitudes, favorecendo a convivência.
Na psicologia social, Rodrigues diz que para agirmos precisamos ter conhecimento cognitivo. Como por exemplo, índios – A pessoa precisa vê-los para que tenha um pré-conceito. E há necessidade de um afeto relacionado, índios são selvagens, agressivos. Assim, baseado neste afeto o indivíduo vai se comportar, ou seja, fugir. Para que exista mudança sobre o pré-conceito há necessidade de mudar o afeto. É preciso ter coerência entre cognitivo, afetivo e comportamento para o indivíduo ter equilíbrio. Quando a pessoa muda o afeto ela não forçou uma reação, pois foi em acordo com sua crença, logo foi coerente e entra em consonância cognitiva. Por exemplo: Cognitivamente: Sabe que a bebida não lhe faz bem. Afetivamente: Vai ao carnaval com os amigos que insistem para que beba. Comportamento: 1°Não bebe. Quando atende o que sabe e o que sente, entra em consonância. 2° Não consegue se controlar e atende a vontade dos outros. Ao contrário, agindo em desacordo com o que sabe (cognitivamente) que não deveria beber (afetivamente) perdendo o controle (comportamento) e, entra em dissonância cognitiva, pois está em desacordo consigo.
Sócrates e Platão como precursores da idéia Cristã e do Espiritismo deixaram-nos claro as idéias do Cristo, preparando o caminho para o consolador prometido. E O evangelho segundo espiritismo, em seu cap.-I que nos fala sobre o Espiritismo, ofertando as criaturas uma bússola, para a navegação em todas as marés da existência humana. Levando o homem a uma reflexão sobre o sentido da vida. Além disto, no próprio Evangelho, em seu cap. V- item 24- Quando Delfina de Girardin escreve Sobre a Desgraça Real, nos reporta sobre as conseqüências das nossas escolhas infelizes. E da necessidade de não valorizarmos só aquilo que está na superfície, mas os resultados futuros. Contudo, Rodrigues ao se referir em consonância (equilíbrio) e dissonância (desequilíbrio) ele nada mais fala que sobre a questão 621 de o Livro dos Espíritos, que diz que é na consciência que podemos discernir o certo do errado, ou seja, quando ela está tranqüila estamos em consonância cognitiva, pois sabemos, sentimos e fazemos de forma coerente. Entretanto, a criatura que já tem uma imagem cognitiva gravada de felicidade, sobre o carnaval, terá dificuldades em se posicionar diferente do grupo, quanto aos excessos, ainda que, esteja infeliz. Neste caso, o exercício de bem em relação a si mesmo não acontece, pois ao não construir valores internos suficientes desconhece a própria identidade. E não existindo identidade, não existe individualidade, conseqüentemente a pessoa fica prisioneira das suas crenças destorcidas em relação ao que evoca destes ambientes onde freqüenta.
Então quando o dicionário nos informa que ética é a morada dos animais, volta à querência, vai de encontro ao pensamento Socrático do Conhece-te a ti mesmo. Que é o convite de Joanna de Angelis ao auto-descobrimento. Onde já não podemos mais aceitar de braços cruzados a situação de vítima, concordando com Sartre, na questão do esforço constante. E com Bronfenbrenner, que o indivíduo é uma entidade dinâmica, como preconiza Kardec, em o Livro dos Espíritos Questão 167, sobre o objetivo da reencarnação, que nos remete a nossa realidade espiritual, onde temos que cumprir com o objetivo da evolução. Ainda Joanna de Angelis salienta que no inicio de sua transformação o homem experimenta momentos de bem estar, em decorrência da manutenção dos pensamentos positivos e, quanto mais age no bem, mais se equilibra. Em se equilibrando, muda a vibração e logo não quer voltar à zona de sofrimento, mas para isso necessita de vigilância e oração.
Nestas ocasiões, em especial no carnaval, até mesmo aqueles que têm conhecimento espiritual ficam em dúvida sobre a postura a seguir. No entanto, a resposta está muito clara. Aqueles que estiverem com suas carroças vazias permanecerão fazendo barulho. Entretanto, os que estão se construindo éticos seguirão os passos silenciosos de Paulo de Tarso, que ainda hoje, fazem barulho em nossa alma.



Bibliografia:
ÂNGELIS, Joanna de (espírito). Autodescobrimento – Uma busca interior; psicografado por Divaldo Pereira Franco- Salvador, BA- Liv. Espírita Alvorada. – 03 – 2000.7
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 119. Ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. Cap. I, item 5, p 56-57 e cap. V, item 24.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Salvador Gentille, revisão de Elias Barbosa. Araras, SP, IDE, 166ª. Edição, 2006. Cap.IV, Q. 167, p 104. – Cap.XI- Livro III – Cap. I, Q. 621, p. 258.
MACEDO, Mariane D. de - Ética no terceiro Milênio como Qualidade de Vida- Monografia de Graduação. Universidade da Região da Campanha. 2001.
RODRIGUES, Aroldo. (outros). Psicologia Social. Cap. 3 - Petrópolis, RJ . Editora Vozes, 1999.