domingo, 10 de novembro de 2013

RESILIÊNCIA


                                                              Mariane de Macedo

 “E, se os deixar ir em jejum para suas casas, desfalecerão no caminho, porque alguns deles vieram de longe”. (Marcos, 8:3)

                      Resiliência é um conceito oriundo da física, que se refere à propriedade de que são dotados alguns materiais, de acumular energia quando exigidos ou submetidos a estresse sem ocorrer ruptura. Este termo também tem origens na Economia da Natureza ou Ecologia. Pode ser definido como a capacidade de recuperação de um ambiente frente a um impacto, como por exemplo, uma queimada. Logo, o bioma cerrado costuma apresentar uma grande capacidade de resiliência após uma queimada.

                      Atualmente resiliência é utilizado no mundo dos negócios para caracterizar pessoas que têm a capacidade de retornar ao seu equilíbrio emocional após sofrer grandes pressões ou estresse, ou seja, são dotadas de habilidades que lhes permitem lidar com problemas  mantendo o equilíbrio emocional.

                        A Psicologia pegou emprestada a palavra, criando o termo resiliência psicológica para indicar como as pessoas respondem às frustrações diárias, em todos os níveis, e sua capacidade de recuperação emocional. Portanto, quanto mais resiliente for o indivíduo, mais fortemente estará preparado para lidar com as adversidades da vida.

                     Nesse sentido, a atitude mental de enfrentamento é uma das primeiras lições para construir uma boa resiliência psicológica, pois possibilita ao homem uma postura mais ativa: a de se tornar responsável pelo que acontece a sua volta, apropriando-se de suas escolhas destituindo-se do papel de vítima.

                       O psicólogo existencialista Viktor Frankl. Prisioneiro dos campos de concentração teve a oportunidade de observar as mais diversas reações dos prisioneiros frente às atrocidades cometidas pelos nazistas. Em seus relatos, descreve que muitas pessoas em certo ponto não mais conseguiam tolerar o sofrimento e assim deliberadamente desistiam de viver. Faziam isso se jogando contra as cercas eletrificadas, deixando de se alimentar ou, finalmente, se atirando contra os militares e seus cachorros. Em suas notas, descreveu que aquelas que mais suportavam a dor de uma prisão (e que sobreviveram) eram aquelas que desenvolviam um sentido de vida como, por exemplo, guardar comida para um prisioneiro mais fragilizado ou mobilizar-se para conseguir medicações para outro mais necessitado. Tais ações, segundo ele, traziam de volta a dignidade humana, pois abasteciam as pessoas com força e determinismo pessoal.

                    Para Frankl, “O sucesso, como a felicidade, não pode ser perseguido; ele deve acontecer, e só tem lugar como efeito colateral de uma dedicação pessoal a uma causa maior” Desta forma, o homem deve em seu cotidiano desenvolver projetos que tragam um sentido a sua existência, pois o torna mais resiliente frente às adversidades da vida.

                    Fechando o tripé em que se apoia a resiliência, a capacidade de se compreender os próprios sentimentos. Estar atento às emoções é uma das maneiras mais simples do homem desenvolver a capacidade de enfrentamento emocional. Quando reconhece seus sentimentos e os aceita tem a possibilidade de permanecer em sofrimento, ou sair deste. A lucidez em relação a sua subjetividade lhe permite ser mais rápido na busca de soluções, e quando executa, com atitudes sensatas e coerentes encontra o equilíbrio.

                    Entretanto, quando o homem não está habituado a se conectar consigo, procura aliviar os sentimentos ruins através de atitudes externas como, por exemplo, consumir bebida, comida, e outras substâncias psicoativas. Nada obstante, ao buscar no externo o alívio para o desconforto interno, desequilibra-se. A fuga apenas o distancia da percepção de si mesmo, assim, ao não visualizá-la tem dificuldade de mudar.

                 Para a Doutrina Espírita os três itens que a psicologia da resiliência apresenta para a construção de uma conduta resiliente estão intimamente ligados aos princípios básicos. Posto que desenvolver um papel ativo na vida é ter a consciência do Projeto Reencarnatório. Este é estabelecido na espiritualidade junto às entidades amigas que planejarão junto ao ser reencarnante as condições existenciais para que o mesmo obtenha êxito, salientando, que este projeto foi feito para o crescimento do indivíduo. Existe toda a assistência espiritual para que a criatura tenha o amparo necessário, diante das adversidades da vida, através de intuições, situações inusitadas, amigos, mensagens e outros, ou seja, não está só na caminhada. O segundo é de elaborar um projeto pessoal, que já está dentro do Projeto Reencarnatório, que é a evolução. Quando o homem pergunta-se: - De onde vim? O que estou fazendo aqui e para onde vou? - Está estabelecendo um questionamento sobre si mesmo e assim desenvolve vontade de aprender e buscar as respostas que o possibilite ao entendimento do sentido da vida. Desta forma, chega ao terceiro item: Entender as próprias emoções, através do reconhecimento e, estabelecer metas para a transformação. Lançando mão do evangelho na busca do equilíbrio emocional, com atitudes pautadas nos ensinamentos cristãos, ainda que de forma lenta.

                     Joanna de Ângelis, no livro Psicologia da Gratidão, destaca que para Jung a finalidade da vida não é aquisição da felicidade, mas a busca de sentido, de significado. O sentido, o significado existencial, entretanto, caracteriza-se pela busca interna, pela transformação do indivíduo. É um sentido profundo, a princípio de autorrealização, depois de, auto encontro até a auto iluminação. Quando o homem consegue desenvolver este projeto pessoal aumenta significativamente a resiliência, porque não se sente sem rumo.

                     Portanto, o que define uma pessoa resiliente é a capacidade de buscar na sua centelha divina, a força e coragem para prosseguir. É a certeza que Deus é Pai, bom e Justo e jamais abandona seus filhos, ainda que, na hora dos testemunhos pareça ao contrario. E, através de Jesus, oportunizou ao homem espiritualizar-se gradativamente, fortalecendo a crença de sua origem divina. O Mestre desejando o bem de todos os homens, cheio de abnegação e amor sabe alimentar, com recursos específicos, o ignorante o sábio, o indagador e o crente, o revoltado e o infeliz. Compreende, que de outro modo às criaturas cairiam, exaustas nos imensos despenhadeiros do processo evolutivo. E, como governador espiritual da terra, assevera: “E, se os deixar ir em jejum para suas casas, desfalecerão no caminho, porque alguns deles vieram de longe”.
 

BIBLIOGRAFIA:

FRANCO, Divaldo – Pelo espírito Joanna de Ângelis –– Psicologia da Gratidão –– Editora LEAL- 1ª. Ed.- 2001.

FRANKL, Viktor E. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Petrópolis: Editora Vozes, 1991

KARDEC, Allan – O Evangelho Segundo Espiritismo – 1 ed. Porto Alegre, RS:     FERGS -2006.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Salvador Gentille, revisão de Elias Barbosa. Araras, SP, IDE, 166ª. Edição, 2006.

NÃO ESQUEÇA O PRINCIPAL

                                                                                                                                                                                                                        Mariane de Macedo


“Senhor, permite-me que vá eu primeiro enterrar meu pai. E Jesus lhe respondeu: Deixa que os mortos enterrem os seus mortos, e tu vai e anuncia o Reino de Deus”. (Lucas, IX: 59-60).
  

                     Jesus não censurava àquele que considerava um dever de piedade filial ir sepultar o pai. Mas, através desta assertiva desejava revelar um sentido mais profundo, mostrando que a vida espiritual é, realmente, a verdadeira vida, a vida do Espírito. Cumprindo mais uma jornada na terra seguem os espíritos para a pátria espiritual, conduzindo a bagagem dos feitos acumulados em suas existências físicas. O Espírito utiliza-se do corpo como revestimento, verdadeira cadeia que o prende à vida terrena, e da qual ele sente-se feliz em libertar-se.

                   Certamente Jesus ensinava que o respeito aos mortos não estava condicionado a matéria, mas ao espírito. Os homens ainda não compreenderam que é através da subjetividade, ou seja, dos sentimentos que estão vinculados. E o amor, de todos os sentimentos, é o mais legítimo.

                  Conta à lenda que certa mulher, muito pobre, com uma criança no colo, passando diante de uma caverna escutou uma voz misteriosa que lá dentro lhe dizia: “Entre e apanhe tudo que você desejar, Mas não esqueça o principal. Lembre-se, porém, de uma coisa: Depois que você sair, a porta se fechará para sempre. Portanto, aproveite a oportunidade, mas não esqueça o principal”. A mulher entrou na caverna e encontrou muitas riquezas. Fascinada pelo ouro e pelas joias, pôs a criança no chão e começou a juntar, ansiosamente, tudo o que podia em seu avental. A voz misteriosa falou novamente: “você só tem oito minutos". Esgotado o tempo, a mulher carregada de ouro e pedras preciosas, correu para a fora da caverna e a porta se fechou. Lembrou-se, então, que a criança ficara lá e a porta estava fechada para sempre!

                  O homem materialista passa seus oito minutos da existência física “esquecendo o principal”. Sobrecarregado pelo peso da matéria, coloca os afetos ao lado, justificando que a busca material é para beneficiá-los. No entanto, enquanto gasta anos construindo impérios, negligencia com sua  presença física dentro do lar. 

                  A ambição, a ganância, os prazeres materiais fascina o individuo, que esquece o essencial, sem perceber que o tempo está esgotando. Somente quando arrebatados pela morte física é que os afetos tornam-se indispensáveis. Quando a porta desta vida se fecha, permanecem apenas as lamentações e culpas. A perda dos entes queridos, ás vezes, é o caminho, doloroso, que leva a pessoa a se espiritualizar, na busca de aplacar o sofrimento.    

                Para Divaldo Franco, “Morrer, longe de ser o descansar nas mansões celestes ou expurgar sem remissão nas zonas infelizes, é, pura e simplesmente, recomeçar a viver. A morte a todos aguarda. Preparar-se para tal acontecimento é tarefa inevitável. Apenas as almas esclarecidas e experimentadas na batalha redentora serão capazes de transpor a barreira do túmulo e caminhar em liberdade. A reencarnação é uma bendita oportunidade de evolução. A matéria que se encontra imersa, por ora, é abençoado campo de luta e de aprimoramento pessoal. Cada dia na carne é uma chance de recomeço”.

               Portanto, necessário manter os relacionamentos sadios durante a existência, ainda, que alguns estejam regidos pelas leis da reconciliação.  É no processo educacional, que se motiva a criatura a sua transformação moral. E, o  afeto é mola propulsora a reconstrução da estima e de hábitos novos. Quando os indivíduos compreendem as leis naturais, e estabelecem uma vinculação espiritual, não descuidam dos seus afetos, independente da condição em que se encontram.

                Assim, “não esquecer o principal” é estar vivo e pleno, seja na condição de espírito ou de homem. Para que, quando a morte bater na porta, não exista motivo para desespero e, sim, apesar das lágrimas da separação física, que permaneça a certeza da bondade divina. Pois, Deus concedeu a oportunidade da convivência e aprendizado junto aqueles que partiram. E na condição de Pai amoroso, sempre permite reencontros através dos sonhos. 

                Nada obstante, Jesus, o Mestre amoroso convida para a reencarnação com vida, ou seja, lúcido dos objetivos evolutivos. Não se deixando obscurecer pela matéria, que aprisiona e torna o homem com vida física, mas, morto para essência e os valores espirituais.  Portanto: Não esqueça o principal.

 Bibliografia:

ANGELIS, Joana( espírito) – O Homem Integral – Psicografado por Divaldo Pereira Franco – Salvador – BA – Livraria Espírita Alvorada, 1990. 1ª Ed.

Divaldo Franco – Triunfo da imortalidade – Porto Alegre – RS – FERGS , Livraria Francisco Spinelli, 2012.

Kardec, Allan - O livro dos Espíritos – Edição comemorativa pelo transcurso, em 18 de abril de 2007, do Sesquicentenário do lançamento de O livro dos Espíritos –ed. FEB.

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 119. Ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002.