quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A PSICOLOGIA DO EVANGELHO


“Não te peço que os tire do mundo, mas que os livres do mal”
João, 17:15
Mariane de Macedo

Joanna de Ângelis considera Jesus como terapeuta, que oportunizou através de seu Evangelho, as diretrizes para uma vida equilibrada, salientando que o indivíduo que se utilizar desta terapêutica poderá vencer as vicissitudes galgando melhores condições evolutivas.
Terapeuta por excelência soube ver o lado luz das criaturas investindo na potencialidade individual de cada um. Assim chamou seu colégio apostolar: Mateus, o publicano coletor de impostos que tinha uma vida dissoluta. Simão, a quem acrescentou o nome de Pedro, pescador simples com poucos recursos intelectuais, Às vezes, intempestivo como no posicionamento diante do exército romano, quando decepou a orelha do soldado Malcon, no horto, colocando a vida de todos em perigo; João, com arroubos da juventude, onde o próprio mestre chamava-o, junto com seu irmão Tiago, de “Boanerges” ou filhos do trovão; Judas Escariotes, de todos o que mais condições culturais apresentava. Jamais fora repreendido pelo mestre, era o tesoureiro do grupo e preocupado com as causas sociais, além destes André, irmão de Pedro; Tiago, irmão de João, Filipe e Bartolomeu, Tomé, Tiago, filho de Alfeu e Simão chamado Zelote; Judas, filho de Tiago.
Jesus soube perceber, no dizer de Joanna de Ângelis: “que como terapeuta rompeu as barreiras da personalidade dos pacientes e penetrou-lhes a consciência”, que aqueles homens eram como a pedra bruta, que precisa ser lapidada. Buscou construir um grupo, que não apresentava as viciações dos fariseus e, em três anos preparou-os para que dessem continuidade ao seu evangelho de amor, investindo no Ser essencial de cada um.
O self, Ser essencial, que é o centro da Consciência, onde estão fixados todas as características positivas e os valores reais do indivíduo. Ou seja, nosso lado luz, amoroso, bom e belo, é a Essência divina que somos. Conforme o Livro dos Espíritos, na questão 88, “O espírito é, se quiserdes, uma chama, um clarão, ou uma centelha etérea”. Quando estimulado este campo eletromagnético pode se expandir, mas quando o ego se sobrepõe, a essência fica inibida.
O Ego, que é a camada de ignorância que envolve o Ser Essencial (essência), onde ficam registradas todas as experiências equivocadas. É o EU menor, inferior. E pode ser utilizado pelo indivíduo como negatividade ou máscara do ego, segundo Alírio Cerqueira.
Para o autor acima citado, Negatividades do EGO são as energias que se originam do desamor, que é a ausência de amor por si mesmo. Existem enquanto os indivíduos não se dispõem a cultivar os reais VALORES. Permanecendo ainda nos campos do ódio, egoísmo, orgulho, revolta, raiva, mágoa, ressentimento, angustia, depressão, ansiedade, desespero, medo, pânico, violência, cólera, ciúme. Mas à medida que o homem percebe os seus equívocos e busca a transformação moral, amplia as energias do SER essencial, em decorrência desses sentimentos serem transitórios. O maior exemplo que o evangelho nos oportuniza é a passagem de Saulo de Tarso, que perseguia os Cristãos sem piedade. Sendo artífice na execução do primeiro mártir do cristianismo, Estevão. No entanto, ao encontrar-se com O Cristo, na estrada de Damasco percebeu o equivoco e perguntou a Jesus: “Senhor, o que queres que eu faça?” Demonstrando o arrependimento sincero e de imediato, buscando a reparação. A partir deste episódio foi fiel ao Mestre até o final de seus dias, como Paulo de Tarso.
Já nas máscaras do EGO, encontramos a parte disfarçada, onde o ego lança mão dos seus instrumentos de defesa e fuga. Originam-se do pseudo-amor, ou seja, do falso amor, onde o indivíduo consciente ou inconsciente dissimula as negatividades do EGO. Ao acreditar-se correto, perfeito a criatura disfarça o comportamento com sentimentos aparentemente positivos, como a euforia, autopiedade, perfeccionismo, pseudoperdão, martírio, puritanismo. Dificultando a sua reforma íntima, em decorrência de não admitir os erros. E Judas Escariotes é a representação desta figura mascarada. Na convivência com o Mestre era moderado, dosado, discreto, equilibrado e sensato. Não há indícios de que tenha sido agressivo e não há passagens de ter sido repreendido por Jesus. Mais eloqüente e polido dos discípulos, mostrava preocupação com causas sociais e agia silenciosamente. No entanto, ao perceber seu equívoco, não conseguiu enfrentar a própria realidade e sucumbiu.
O Evangelho mostra o olhar do Mestre, que sabia da necessidade de investimento no potencial individual de cada um. E, assim, encontram-se aqueles que foram chamados, com os seguintes resultados. Mateus, o publicano: Escreveu o primeiro evangelho - a fonte que deu origem aos demais. João, o mais jovem: Companheiro permanente de Jesus e após a sua morte de Maria. Autor do Evangelho, de Epístolas e do Apocalipse. O evangelho de João é o mais espiritualizado, revelando Jesus como o Verbo Divino, entre homens. Pedro, o pescador: Identificou Jesus como o “Messias, filho do Deus vivo”. Líder e participante ativo do círculo interno de Jesus morreu em Roma, crucificado de cabeça para baixo, a seu pedido.
Todos são chamados, mas não ainda escolhidos, pela predominância do ego, em detrimento da essência. Embora com o tratado de psicoterapia, o viver no mundo ainda não é para o homem invigilante, um processo de aprendizado. Posto que o próprio Jesus diz: “Não te peço que os tire do mundo, mas que os livres do mal” João, 17:15. Não pediu ele a Deus que tirasse o homem do mundo, pela necessidade de evolução, mas que os livrasse do mal. No entanto, para que permaneça livre do mal, o homem necessita de disciplina, vencer a si mesmo, e buscar relacionamentos mais assertivos, para que o Ser essencial se expanda e exista a transformação a qual Jesus acreditou ser possível. Os apóstolos chamados eram imperfeitos e, posteriormente, como escolhidos para falarem em seu nome, reformados.
Os espíritas ainda são os pescadores, publicanos e Boanerges, com muitas imperfeições morais, que embora não contando mais com a presença física do Mestre, permanecem com o consolador por ELE prometido. Jesus acreditava na transformação das criaturas, posto que seus seguidores devam, por certo, buscá-lo como modelo e guia. E, permanecendo na tarefa com a mesma terapêutica, a plantar as boas sementes e auxiliando no “livrai-os do mal”, lembrando que a colheita é de Deus.

Bibliografia:
ÂNGELIS, Joanna - Vida Desafios e Soluções – Salvador, BA – Liv. Espírita Alvorada. 1997 – pag. 102.
CERQUEIRA, Alírio - Psicoterapia à luz do Evangelho de Jesus - Editora Bezerra de Menezes, 2004. Pag. 30.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 119. Ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. Cap. I, item 5, p 56-57 e cap. V, item 24.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Salvador Gentille, revisão de Elias Barbosa. Araras, SP, IDE, 166ª. Edição, 2006. Cap.IV, Q. 167, p 104. – Cap. XI- Livro III – Cap. I, Q. 621, p. 258.