...bem-aventurados
os vossos olhos, porque vêem, e os vossos ouvidos, porque ouvem. Porque em
verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes, e
não o viram; e ouvir o que vós ouvis, e não o ouviram”. (Mateus 13, 9-17)
·
Mariane de Macedo
Nesta parábola Jesus nos fala da
importância de vermos e ouvirmos de forma equilibrada e justa. Situação que era
corriqueira entre o povo da época, com o coração endurecido, não conseguiam
compreender o sentido das palavras do Cristo. Assim faziam interpretações de
forma que lhes fosse mais conveniente. No entanto, passados séculos as palavras
do Mestre estão mais atuais do que nunca e, o coração dos homens, também!
Permanecem iguais.
Considerando que um dos momentos
mais difíceis da vida humana é a hora de mudar. Quando chamados pelas leis
universais a colocarmos em prática as nossas teorias e, percebemos que elas
apenas serviam para organizar a vida alheia, caímos em descrédito pessoal. Pois
na maioria das vezes exigimos dos outros comportamentos dos quais estamos longe
de realizar.
Quando criticamos alguém sem
empatia, na realidade expomos nossa forma de ser. Quando alguém diz ao mundo que você é uma má
pessoa esta atitude revela que ela é insegura, tem um pensamento duro e cheio
de estereótipos.
O mais certo é que por trás de uma
crítica destrutiva quase sempre se esconde o desconhecimento ou a negação de si
mesmo. Na verdade, muitas pessoas lhe criticam porque não compreendem suas
decisões, não conhecem a sua história e não entendem a verdadeira razão de ter
escolhido o caminho que escolheu. Vão lhe criticar por desconhecimento mais
profundo sobre o seu jeito e, sobretudo, por serem arrogantes e pensarem que são
os donos absolutos da verdade. São indivíduos cheios de teorias prontas para os
outros, mas incapazes de ser afetivos com os filhos, respeitar seus
colaboradores, cumprimentar o porteiro, o vizinho e, outras tantas atitudes
esperadas dos que se intitulam “autoridades” na forma de agir. Falam de teorias,
vazias de sentimento, pelas suas próprias fragilidades. Posto que quem sente,
sabe como é doloroso superar os desafios existenciais. E, além disto, a importância dos outros nos
instantes decisivos da vida.
Em outros casos, as pessoas lhe
criticam porque veem refletidas em você certas características ou talentos que
não querem reconhecer. O escritor francês Jules Renard afirmou com precisão: “Nossa crítica consiste em reprovar nos
outros as qualidades que cremos ter”.
Por exemplo, uma mulher que é maltratada pelo seu marido pode criticar
duramente o divórcio. É uma forma de reafirmar sua posição. Diz a si mesma que
deve seguir suportando essa situação. E o curioso é que quanto mais tóxica seja
a crítica, mais forte se revela a negação dos seus sentimentos.
Na prática, em algumas ocasiões, a
crítica destrutiva não é mais do que um mecanismo de defesa conhecido como
projeção. Neste caso, a pessoa projeta nos outros os mesmos sentimentos,
desejos ou impulsos que lhe são muito dolorosos. E com os quais não é capaz de
conviver. De maneira que os percebe como algo estranho e que deve ser
castigado.
Para tanto, os Sioux têm um
provérbio muito interessante: “Antes de
julgar uma pessoa, caminha três luas com seus sapatos”. Se referem ao fato
de que julgar é muito fácil, entender o outro é um pouco mais difícil. Ser
empático é muitíssimo mais complicado. E o julgamento só será justo se vivermos
experiências iguais.
Portanto, viver para satisfazer as
expectativas alheias é uma exigência que nos impingimos por crenças construídas
na infância, onde não tínhamos a maturidade necessária para escolhermos outro
caminho. No entanto, ao entrar na vida adulta necessitamos resignificar nossos
sentimentos, para que as nossas escolhas se solidifiquem de tal forma, que as
críticas alheias não sejam mais importantes de que as nossas convicções.
Partindo do pressuposto, de que a estrada da nossa vida, o percurso fomos nós
que fizemos. Mas, caso os outros acharem que poderia ser diferente, dê-lhes a
oportunidade de trilhar a mesma estrada. E assim, você perceberá que ele não
caminhará da mesma forma. E não porque você ou ele fez melhor, mas única e
exclusivamente, porque somos individualidades.
Assim, nossa existência deve ser
pautada pela compreensão de que a crítica do outro não pode interferir nas
nossas escolhas, sem o nosso consentimento. A crítica é a penas uma opinião e
não a vivência de uma realidade;
Então não é necessário ter medo da
crítica espalhada por uma percepção torpe do olhar alheio. Ser criticado por
pessoas que tem o prazer de denegrir, apenas reafirma que ela tem a língua fora
do cérebro. Ou seja, ainda é o mesmo homem endurecido a qual o Cristo referia
na parábola. E que também foi evidenciado por Maquiavel: “Em geral, os homens julgam mais pelos olhos do que pela inteligência,
pois todos podem ver, mas poucos compreendem o que veem”. Ou seja, os
homens julgam mais pelos olhos do que pela inteligência.
Jesus nos asseverava para ver com os
olhos da alma, ouvir com os ouvidos do coração, para construirmos um pensamento
inteligente, sem interpretações baseadas em nossas emoções frágeis. Se já
compreendemos o verdadeiro sentido da vida, através desta doutrina, que nos diz
de onde viemos, o que estamos fazendo aqui e para onde vamos. Onde está a nossa
diferença do comportamento massificado da sociedade, que é juiz da vida alheia?
Ao espírita cabe o não julgamento. A não
atirar a primeira pedra, posto que também ele reencarnou no mundo de provas e
expiações. Portanto, imperfeito como o irmão de caminhada. Se hoje não erramos,
tenhamos a certeza que a reencarnação é a prova dos equívocos do passado,
portanto a crítica ao nosso semelhante com objetivo de denegrir apenas nos
mostra o quanto ainda precisamos desenvolver nossos sentimentos, para
definitivamente entendermos a proposta do Mestre... compreendam com o coração, e se convertam, e eu os cure.
·
Psicóloga, trabalhadora do Centro Espírita
Ismael Eillers, membro da AMERGS.
BIBLIOGRAFIA:
Baseado no texto de Jennifer Delgado – Extraído de Rincón de la psicología –
Tradução livre de Doracino Naves