Como é que vedes um argueiro no
olho do vosso irmão, quando não vedes uma trave no vosso olho? – Ou, como é que
dizeis ao vosso irmão: Deixa-me tirar um argueiro do teu olho, vós que tendes
no vosso uma trave? – Hipócritas, tirai primeiro a trave do vosso olho e
depois, então, vede como podereis tirar o argueiro do olho do vosso irmão. (S.
MATEUS, 7:3 a 5.)
O homem como ser histórico, passa
por um processo de aprendizado e transformação, posto que em várias épocas lhe
foi dada a oportunidade de reflexão. Na Grécia com os filósofos; através dos
ensinamentos de Moisés; a vinda do Cristo - o cristianismo; a reforma luterana;
revolução francesa, as grandes guerras e, outros. Nestes fatos históricos,
sempre existiu um chamamento ao individuo para o reconhecimento de si mesmo e
respeito ao outro, o que redundou na organização dos direitos humanos. No
entanto, em pleno terceiro milênio, onde paira um apelo coletivo sobre a
responsabilidade com o planeta e, por conseqüência com a vida, a humanidade
ainda discute sobre aprovação do aborto. Questionar se deve ou não tirar a vida
de alguém, é desdenhar as conquistas alcançadas ao longo dos séculos.
A doutrina espírita tem na
imortalidade da alma e na reencarnação, a sustentação ao respeito à vida. Estes
dois princípios afirmam que os espíritos são almas encarnadas em corpos, que
através da reencarnação passam pelas experiências necessárias para o
aperfeiçoamento, sejam elas boas ou ruins. De acordo, com a necessidade de
aprendizado do espírito, junto à família, que não está isenta das provações.
Entretanto, para a sociedade
materialista, e distanciada da divindade, o que prepondera é a imediata
satisfação da mãe. Desconhecedora dos seus comprometimentos espirituais com o
ser em formação deseja expurgá-lo, em uma tentativa de aliviar o seu
sofrimento, em detrimento do espírito, que necessita reencarnar nestas
condições.
A Dra. Marlene Nobre, presidente das
associações médico-espíritas Internacional e do Brasil, nos diz que é infundado
o argumento utilizado em defesa do aborto dos anencefálos. De que o feto por
não ter cérebro, não teria um espírito ligado a ele, diz ela: Este
argumento, porém, não tem o respaldo da embriologia. Durante a sua formação, o
feto anencéfalo pode ter, por distúrbios ou falhas do sistema vascular, a
paralisação do desenvolvimento do Sistema Nervoso Central em pontos distintos.
Assim, pode ter um único hemisfério cerebral, não ter nenhum, mas, sem dúvida,
terá o diencéfalo ou as estruturas reptilianas responsáveis pelas funções
primitivas e inconscientes. Tanto é verdade que o anencéfalo tem todas as
atividades instintivas básicas preservadas, como o pulsar do coração e a
possibilidade de expandir os pulmões, nos movimentos respiratórios normais. Não
se pode dizer, portanto, que ele não tem cérebro, nem tampouco que morre ou para
de respirar ao nascer. Há inúmeros anencéfalos que persistem vivos por horas ou
dias, após o nascimento, mesmo desconectados do cordão umbilical, justamente
porque possuem o cérebro primitivo, responsável pelas funções básicas
instintivas.
Se
somos espíritas, a explicação para os fetos anencéfalos é muito mais lógica e
racional. Não podemos nos esquecer de que só o Espírito tem capacidade de
agregar matéria. Se não tivesse um Espírito no comando, o anencéfalo não
poderia formar os seus próprios órgãos - e o fazem a tal ponto que eles são
cogitados para transplantes -, não cumpriria o seu metabolismo basal, e não
teria preservadas as suas funções vitais. O Espírito expressa-se através do
perispírito ou do corpo espiritual e este, por sua vez, modela o corpo físico.
Se há erros ou deficiências na modelagem, isto significa que o Espírito
deformou o seu períspirito por problemas cármicos ou faltas cometidas em outras
vidas. Assim como podem ocorrer deficiências nos mais variados órgãos, a
questão não é diferente em relação ao cérebro. Na questão 344, eles afirmam que
a união da alma com o corpo dá-se no momento da concepção; um pouco mais
adiante, na de nº 356, advertem que há corpos para os quais nenhum Espírito
está destinado, explicando que isto acontece como prova para os pais. E ainda
no desdobramento desta questão enfatizam que a criança somente será um ser
humano se tiver um espírito encarnado. Se juntarmos todas estas respostas,
concluiremos que os corpos para os quais poderíamos afirmar que nenhum espírito
estaria destinado seriam os dos fetos teratológicos, monstruosos, que não têm
nenhuma aparência humana, nem órgãos em funcionamento. Como vimos nada disto se
aplica ao anencéfalo, porque o espírito comanda, ainda que precariamente, um
organismo vivo. No caso do anencéfalo, o períspirito está lesado,
principalmente, em seu chacra ou centro de força cerebral que é responsável
pela percepção (visão, audição, tato etc), pela inteligência (palavra, cultura,
arte, saber) e atua no córtex. O Espírito com este tipo de má-formação errou,
portanto, na aplicação da inteligência e da percepção.
Após o exposto, permanece
claro que a preservação da vida vem ao encontro dos ensinamentos de Jesus, que
nos assevera em Mateus 7:3-5: “Como é que vedes um argueiro no olho do vosso
irmão, quando não vedes uma trave no vosso olho?”. Onde o evangelho segundo espiritismo nos
esclarece que a humanidade insensata busca no outro o mal, antes de ver o mal que está em si mesmo. Para julgar-se a
si mesmo, fora preciso que o homem pudesse ver seu interior num espelho,
pudesse, de certo modo, transportar-se para fora de si próprio, considerar-se
como outra pessoa e perguntar: Que pensaria eu, se visse alguém fazer o que
faço? Incontestavelmente, é o orgulho que induz o homem a dissimular, para si
mesmo, os seus defeitos, tanto morais, quanto físicos. Semelhante insensatez é
essencialmente contrária à caridade, porquanto a verdadeira caridade é modesta,
simples e indulgente. Caridade orgulhosa é um contrassenso, visto que esses
dois sentimentos se neutralizam um ao outro. Com efeito, como poderá um homem,
bastante presunçoso para acreditar na importância da sua personalidade e na
supremacia das suas qualidades, possuir ao mesmo tempo abnegação bastante para
fazer ressaltar em outrem o bem que o eclipsaria, em vez do mal que o
exalçaria? Por isso mesmo, porque é o pai de muitos vícios, o orgulho é também
a negação de muitas virtudes. Ele se encontra na base e como móvel de quase
todas as ações humanas. Essa a razão por que Jesus se empenhou tanto em
combatê-lo, como principal obstáculo ao progresso.
Neste mesmo evangelho, existem
as respostas para as misérias humanas, onde o indivíduo encontra suporte para
as suas provações, sem a necessidade de aniquilar o outro para o seu
aperfeiçoamento moral. A maior prova do amor divino é dar uma nova oportunidade
reencarnatória, pois a existência terrena oportuniza experiências necessárias
para o aprendizado.
Os direitos humanos não devem ser
visto apenas como inibidor de guerras, como algo distanciado das pessoas. Mas
como parte do cotidiano, considerando que todos são iguais diante das leis
naturais, as de Deus. Posto isto, cabe salientar o direito a vida.
Jesus convida ao amor: Ama ao teu próximo, como a ti mesmo. Quando a criatura se ama,
aprende a amar o outro, posto que o reconhece como alguém igual a si.
Desenvolvendo a percepção do todo e, por consequência respeitando os direitos
individuais dos outros, que são interligados aos seus.
O terceiro milênio é o convite a nos
sobrepormos aos comportamentos preconceituosos, sairmos da mesmice e fazermos a
diferença. Tirar a oportunidade dos anencefálos reencarnarem é voltarmos aos
tempos do holocausto, decidindo quem deve viver, buscando a raça pura. Os
tempos são de solidariedade, de esperança e consolo e ninguém que suja as mãos
com o sangue de seu irmão, consegue consolo.
Corpos perfeitos não equivalem à perfeição
moral. A anencefalia de hoje, nada mais é que os defeitos morais de ontem.
Portanto, ter cérebro para premeditar e impedir o processo evolutivo dos
espíritos é construir anecéfalos, pelas leis da reencarnação. Portanto, tirar a
trave do olho é o único caminho para a prerrogativa da vida.
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