domingo, 27 de abril de 2014

NASCER: PRERROGATIVA DA VIDA



                                                                                      Mariane de Macedo

                 Como é que vedes um argueiro no olho do vosso irmão, quando não vedes uma trave no vosso olho? – Ou, como é que dizeis ao vosso irmão: Deixa-me tirar um argueiro do teu olho, vós que tendes no vosso uma trave? – Hipócritas, tirai primeiro a trave do vosso olho e depois, então, vede como podereis tirar o argueiro do olho do vosso irmão. (S. MATEUS, 7:3 a 5.)

            O homem como ser histórico, passa por um processo de aprendizado e transformação, posto que em várias épocas lhe foi dada a oportunidade de reflexão. Na Grécia com os filósofos; através dos ensinamentos de Moisés; a vinda do Cristo - o cristianismo; a reforma luterana; revolução francesa, as grandes guerras e, outros. Nestes fatos históricos, sempre existiu um chamamento ao individuo para o reconhecimento de si mesmo e respeito ao outro, o que redundou na organização dos direitos humanos. No entanto, em pleno terceiro milênio, onde paira um apelo coletivo sobre a responsabilidade com o planeta e, por conseqüência com a vida, a humanidade ainda discute sobre aprovação do aborto. Questionar se deve ou não tirar a vida de alguém, é desdenhar as conquistas alcançadas ao longo dos séculos.                

             A doutrina espírita tem na imortalidade da alma e na reencarnação, a sustentação ao respeito à vida. Estes dois princípios afirmam que os espíritos são almas encarnadas em corpos, que através da reencarnação passam pelas experiências necessárias para o aperfeiçoamento, sejam elas boas ou ruins. De acordo, com a necessidade de aprendizado do espírito, junto à família, que não está isenta das provações.

           Entretanto, para a sociedade materialista, e distanciada da divindade, o que prepondera é a imediata satisfação da mãe. Desconhecedora dos seus comprometimentos espirituais com o ser em formação deseja expurgá-lo, em uma tentativa de aliviar o seu sofrimento, em detrimento do espírito, que necessita reencarnar nestas condições.

           A Dra. Marlene Nobre, presidente das associações médico-espíritas Internacional e do Brasil, nos diz que é infundado o argumento utilizado em defesa do aborto dos anencefálos. De que o feto por não ter cérebro, não teria um espírito ligado a ele, diz ela: Este argumento, porém, não tem o respaldo da embriologia. Durante a sua formação, o feto anencéfalo pode ter, por distúrbios ou falhas do sistema vascular, a paralisação do desenvolvimento do Sistema Nervoso Central em pontos distintos. Assim, pode ter um único hemisfério cerebral, não ter nenhum, mas, sem dúvida, terá o diencéfalo ou as estruturas reptilianas responsáveis pelas funções primitivas e inconscientes. Tanto é verdade que o anencéfalo tem todas as atividades instintivas básicas preservadas, como o pulsar do coração e a possibilidade de expandir os pulmões, nos movimentos respiratórios normais. Não se pode dizer, portanto, que ele não tem cérebro, nem tampouco que morre ou para de respirar ao nascer. Há inúmeros anencéfalos que persistem vivos por horas ou dias, após o nascimento, mesmo desconectados do cordão umbilical, justamente porque possuem o cérebro primitivo, responsável pelas funções básicas instintivas.

Se somos espíritas, a explicação para os fetos anencéfalos é muito mais lógica e racional. Não podemos nos esquecer de que só o Espírito tem capacidade de agregar matéria. Se não tivesse um Espírito no comando, o anencéfalo não poderia formar os seus próprios órgãos - e o fazem a tal ponto que eles são cogitados para transplantes -, não cumpriria o seu metabolismo basal, e não teria preservadas as suas funções vitais. O Espírito expressa-se através do perispírito ou do corpo espiritual e este, por sua vez, modela o corpo físico. Se há erros ou deficiências na modelagem, isto significa que o Espírito deformou o seu períspirito por problemas cármicos ou faltas cometidas em outras vidas. Assim como podem ocorrer deficiências nos mais variados órgãos, a questão não é diferente em relação ao cérebro. Na questão 344, eles afirmam que a união da alma com o corpo dá-se no momento da concepção; um pouco mais adiante, na de nº 356, advertem que há corpos para os quais nenhum Espírito está destinado, explicando que isto acontece como prova para os pais. E ainda no desdobramento desta questão enfatizam que a criança somente será um ser humano se tiver um espírito encarnado. Se juntarmos todas estas respostas, concluiremos que os corpos para os quais poderíamos afirmar que nenhum espírito estaria destinado seriam os dos fetos teratológicos, monstruosos, que não têm nenhuma aparência humana, nem órgãos em funcionamento. Como vimos nada disto se aplica ao anencéfalo, porque o espírito comanda, ainda que precariamente, um organismo vivo. No caso do anencéfalo, o períspirito está lesado, principalmente, em seu chacra ou centro de força cerebral que é responsável pela percepção (visão, audição, tato etc), pela inteligência (palavra, cultura, arte, saber) e atua no córtex. O Espírito com este tipo de má-formação errou, portanto, na aplicação da inteligência e da percepção.

                 Após o exposto, permanece claro que a preservação da vida vem ao encontro dos ensinamentos de Jesus, que nos assevera em Mateus 7:3-5: “Como é que vedes um argueiro no olho do vosso irmão, quando não vedes uma trave no vosso olho?”.  Onde o evangelho segundo espiritismo nos esclarece que a humanidade insensata busca no outro o mal, antes de ver  o mal que está em si mesmo. Para julgar-se a si mesmo, fora preciso que o homem pudesse ver seu interior num espelho, pudesse, de certo modo, transportar-se para fora de si próprio, considerar-se como outra pessoa e perguntar: Que pensaria eu, se visse alguém fazer o que faço? Incontestavelmente, é o orgulho que induz o homem a dissimular, para si mesmo, os seus defeitos, tanto morais, quanto físicos. Semelhante insensatez é essencialmente contrária à caridade, porquanto a verdadeira caridade é modesta, simples e indulgente. Caridade orgulhosa é um contrassenso, visto que esses dois sentimentos se neutralizam um ao outro. Com efeito, como poderá um homem, bastante presunçoso para acreditar na importância da sua personalidade e na supremacia das suas qualidades, possuir ao mesmo tempo abnegação bastante para fazer ressaltar em outrem o bem que o eclipsaria, em vez do mal que o exalçaria? Por isso mesmo, porque é o pai de muitos vícios, o orgulho é também a negação de muitas virtudes. Ele se encontra na base e como móvel de quase todas as ações humanas. Essa a razão por que Jesus se empenhou tanto em combatê-lo, como principal obstáculo ao progresso.

                 Neste mesmo evangelho, existem as respostas para as misérias humanas, onde o indivíduo encontra suporte para as suas provações, sem a necessidade de aniquilar o outro para o seu aperfeiçoamento moral. A maior prova do amor divino é dar uma nova oportunidade reencarnatória, pois a existência terrena oportuniza experiências necessárias para o aprendizado.

           Os direitos humanos não devem ser visto apenas como inibidor de guerras, como algo distanciado das pessoas. Mas como parte do cotidiano, considerando que todos são iguais diante das leis naturais, as de Deus. Posto isto, cabe salientar o direito a vida.

              Jesus convida ao amor: Ama ao teu próximo, como a ti mesmo. Quando a criatura se ama, aprende a amar o outro, posto que o reconhece como alguém igual a si. Desenvolvendo a percepção do todo e, por consequência respeitando os direitos individuais dos outros, que são interligados aos seus.

             O terceiro milênio é o convite a nos sobrepormos aos comportamentos preconceituosos, sairmos da mesmice e fazermos a diferença. Tirar a oportunidade dos anencefálos reencarnarem é voltarmos aos tempos do holocausto, decidindo quem deve viver, buscando a raça pura. Os tempos são de solidariedade, de esperança e consolo e ninguém que suja as mãos com o sangue de seu irmão, consegue consolo.

               Corpos perfeitos não equivalem à perfeição moral. A anencefalia de hoje, nada mais é que os defeitos morais de ontem. Portanto, ter cérebro para premeditar e impedir o processo evolutivo dos espíritos é construir anecéfalos, pelas leis da reencarnação. Portanto, tirar a trave do olho é o único caminho para a prerrogativa da vida.  

 

 

 

 

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