domingo, 23 de outubro de 2016

OLHOS DE VER E OUVIDOS DE OUVIR


 

...bem-aventurados os vossos olhos, porque vêem, e os vossos ouvidos, porque ouvem. Porque em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que vós ouvis, e não o ouviram”. (Mateus 13, 9-17)

 

·         Mariane de Macedo

             Nesta parábola Jesus nos fala da importância de vermos e ouvirmos de forma equilibrada e justa. Situação que era corriqueira entre o povo da época, com o coração endurecido, não conseguiam compreender o sentido das palavras do Cristo. Assim faziam interpretações de forma que lhes fosse mais conveniente. No entanto, passados séculos as palavras do Mestre estão mais atuais do que nunca e, o coração dos homens, também! Permanecem iguais.

             Considerando que um dos momentos mais difíceis da vida humana é a hora de mudar. Quando chamados pelas leis universais a colocarmos em prática as nossas teorias e, percebemos que elas apenas serviam para organizar a vida alheia, caímos em descrédito pessoal. Pois na maioria das vezes exigimos dos outros comportamentos dos quais estamos longe de realizar.

             Quando criticamos alguém sem empatia, na realidade expomos nossa forma de ser.  Quando alguém diz ao mundo que você é uma má pessoa esta atitude revela que ela é insegura, tem um pensamento duro e cheio de estereótipos.

           O mais certo é que por trás de uma crítica destrutiva quase sempre se esconde o desconhecimento ou a negação de si mesmo. Na verdade, muitas pessoas lhe criticam porque não compreendem suas decisões, não conhecem a sua história e não entendem a verdadeira razão de ter escolhido o caminho que escolheu. Vão lhe criticar por desconhecimento mais profundo sobre o seu jeito e, sobretudo, por serem arrogantes e pensarem que são os donos absolutos da verdade. São indivíduos cheios de teorias prontas para os outros, mas incapazes de ser afetivos com os filhos, respeitar seus colaboradores, cumprimentar o porteiro, o vizinho e, outras tantas atitudes esperadas dos que se intitulam “autoridades” na forma de agir. Falam de teorias, vazias de sentimento, pelas suas próprias fragilidades. Posto que quem sente, sabe como é doloroso superar os desafios existenciais.  E, além disto, a importância dos outros nos instantes decisivos da vida.

         Em outros casos, as pessoas lhe criticam porque veem refletidas em você certas características ou talentos que não querem reconhecer. O escritor francês Jules Renard afirmou com precisão: “Nossa crítica consiste em reprovar nos outros as qualidades que cremos ter”.  Por exemplo, uma mulher que é maltratada pelo seu marido pode criticar duramente o divórcio. É uma forma de reafirmar sua posição. Diz a si mesma que deve seguir suportando essa situação. E o curioso é que quanto mais tóxica seja a crítica, mais forte se revela a negação dos seus sentimentos.

           Na prática, em algumas ocasiões, a crítica destrutiva não é mais do que um mecanismo de defesa conhecido como projeção. Neste caso, a pessoa projeta nos outros os mesmos sentimentos, desejos ou impulsos que lhe são muito dolorosos. E com os quais não é capaz de conviver. De maneira que os percebe como algo estranho e que deve ser castigado.

              Para tanto, os Sioux têm um provérbio muito interessante: “Antes de julgar uma pessoa, caminha três luas com seus sapatos”. Se referem ao fato de que julgar é muito fácil, entender o outro é um pouco mais difícil. Ser empático é muitíssimo mais complicado. E o julgamento só será justo se vivermos experiências iguais.

            Portanto, viver para satisfazer as expectativas alheias é uma exigência que nos impingimos por crenças construídas na infância, onde não tínhamos a maturidade necessária para escolhermos outro caminho. No entanto, ao entrar na vida adulta necessitamos resignificar nossos sentimentos, para que as nossas escolhas se solidifiquem de tal forma, que as críticas alheias não sejam mais importantes de que as nossas convicções. Partindo do pressuposto, de que a estrada da nossa vida, o percurso fomos nós que fizemos. Mas, caso os outros acharem que poderia ser diferente, dê-lhes a oportunidade de trilhar a mesma estrada. E assim, você perceberá que ele não caminhará da mesma forma. E não porque você ou ele fez melhor, mas única e exclusivamente, porque somos individualidades.

           Assim, nossa existência deve ser pautada pela compreensão de que a crítica do outro não pode interferir nas nossas escolhas, sem o nosso consentimento. A crítica é a penas uma opinião e não a vivência de uma realidade;

           Então não é necessário ter medo da crítica espalhada por uma percepção torpe do olhar alheio. Ser criticado por pessoas que tem o prazer de denegrir, apenas reafirma que ela tem a língua fora do cérebro. Ou seja, ainda é o mesmo homem endurecido a qual o Cristo referia na parábola. E que também foi evidenciado por Maquiavel: “Em geral, os homens julgam mais pelos olhos do que pela inteligência, pois todos podem ver, mas poucos compreendem o que veem”. Ou seja, os homens julgam mais pelos olhos do que pela inteligência.

           Jesus nos asseverava para ver com os olhos da alma, ouvir com os ouvidos do coração, para construirmos um pensamento inteligente, sem interpretações baseadas em nossas emoções frágeis. Se já compreendemos o verdadeiro sentido da vida, através desta doutrina, que nos diz de onde viemos, o que estamos fazendo aqui e para onde vamos. Onde está a nossa diferença do comportamento massificado da sociedade, que é juiz da vida alheia?

          Ao espírita cabe o não julgamento. A não atirar a primeira pedra, posto que também ele reencarnou no mundo de provas e expiações. Portanto, imperfeito como o irmão de caminhada. Se hoje não erramos, tenhamos a certeza que a reencarnação é a prova dos equívocos do passado, portanto a crítica ao nosso semelhante com objetivo de denegrir apenas nos mostra o quanto ainda precisamos desenvolver nossos sentimentos, para definitivamente entendermos a proposta do Mestre... compreendam com o coração, e se convertam, e eu os cure.

·         Psicóloga, trabalhadora do Centro Espírita Ismael Eillers, membro da AMERGS.

BIBLIOGRAFIA: Baseado no texto de Jennifer Delgado – Extraído de Rincón de la psicología – Tradução livre de Doracino Naves

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

RESILIÊNCIA


       Resiliência

           Mariane de Macedo


                      Resiliência é um conceito oriundo da física, que se refere à propriedade de que são dotados alguns materiais, de acumular energia quando exigidos ou submetidos a estresse sem ocorrer ruptura. Este termo também tem origens na Economia da Natureza ou Ecologia. Pode ser definido como a capacidade de recuperação de um ambiente frente a um impacto, como por exemplo, uma queimada. Logo, o bioma cerrado costuma apresentar uma grande capacidade de resiliência após uma queimada.

                      Atualmente resiliência é utilizado no mundo dos negócios para caracterizar pessoas que têm a capacidade de retornar ao seu equilíbrio emocional após sofrer grandes pressões ou estresse, ou seja, são dotadas de habilidades que lhes permitem lidar com problemas mantendo o equilíbrio emocional.

                        A Psicologia pegou emprestada a palavra, criando o termo resiliência psicológica para indicar como as pessoas respondem às frustrações diárias, em todos os níveis, e sua capacidade de recuperação emocional. Portanto, quanto mais resiliente for o indivíduo, mais fortemente estará preparado para lidar com as adversidades da vida.

                     Nesse sentido, a atitude mental de enfrentamento é uma das primeiras lições para construir uma boa resiliência psicológica, pois possibilita ao homem uma postura mais ativa, destituindo-se do papel de vítima.

                       O psicólogo existencialista Viktor Frankl, prisioneiro dos campos de concentração teve a oportunidade de observar as mais diversas reações dos prisioneiros frente às atrocidades cometidas pelos nazistas. Em seus relatos, descreve que muitas pessoas em certo ponto não mais conseguiam tolerar o sofrimento e assim deliberadamente desistiam de viver. Faziam isso se jogando contra as cercas eletrificadas, deixando de se alimentar ou, finalmente, se atirando contra os militares e seus cachorros. Em suas notas, descreveu que aquelas que mais suportavam a dor de uma prisão (e que sobreviveram) eram aquelas que desenvolviam um sentido de vida como, por exemplo, guardar comida para um prisioneiro mais fragilizado ou mobilizar-se para conseguir medicações para outro mais necessitado. Tais ações, segundo ele, traziam de volta a dignidade humana, pois abasteciam as pessoas com força e determinismo pessoal.

                    Para Frankl, “O sucesso, como a felicidade, não pode ser perseguido; ele deve acontecer, e só tem lugar como efeito colateral de uma dedicação pessoal a uma causa maior” Desta forma, o homem deve em seu cotidiano desenvolver projetos que tragam um sentido a sua existência, pois o torna mais resiliente frente às adversidades da vida. Concordando com a assertiva de Jung, que a finalidade da vida não é aquisição da felicidade, mas a busca de sentido, de significado. O sentido, o significado existencial, entretanto, caracteriza-se pela busca interna, pela transformação do indivíduo. É um sentido profundo, a princípio de autorrealização, depois de auto iluminação, de auto encontro.

                    Outro aspecto que apoia na resiliência, é a capacidade de compreender os próprios sentimentos. Estar atento às emoções é uma das maneiras mais simples do homem desenvolver a capacidade de enfrentamento emocional. Quando reconhece seus sentimentos e os aceita tem a possibilidade de permanecer em sofrimento, ou sair deste. A lucidez em relação a sua subjetividade lhe permite ser mais rápido na busca de soluções, e quando executa, com atitudes sensatas e coerentes encontra o equilíbrio.              

                     Portanto, o que define uma pessoa resiliente é a capacidade de buscar, a força e coragem para prosseguir. É a certeza de suas condições internas para a superação através da busca deste sentido. E para isto, a psicologia, através da psicoterapia tem muito a contribuir com o indivíduo.

A ASSERTIVIDADE NO   COTIDIANO                                                                                      

 Mariane de Macedo 

                         Desde de 2005 tenho estudado sobre o tema Assertividade, dando origem a um blog, ao qual tenho compartilhado alguns textos desenvolvidos em capacitações e palestras em vários tipos de grupos, tais como: empresariais, escolares, religiosos, segurança e outros. Transformei o tema como “carro chefe” de minhas atividades profissionais, posto que assertividade é uma forma de comunicação. No entanto, se nas relações profissionais devemos nos capacitar, porque não a estende-la aos nossos lares? Ao responder este questionamento, que me debruço, novamente, no tema ofertando ‘Assertividade’ para as nossas vidas pessoais. O indivíduo que a compreende passa a se posicionar, sem preocupações com críticas ou perda de afeto, ou seja, se comunica de forma clara e objetiva, visando resultados mais verdadeiros nas suas relações cotidianas.

                        Carlos Augusto Abranches (2001), diz que a era da comunicação exige atributos indispensáveis ao homem, para que tenha competências novas e eficientes, visando interagir de maneira mais profunda e produtiva com os outros e a natureza. Verifica através da proliferação de técnicas de controle mental; Cursos de línguas estrangeiras e oratória, através dos profissionais de “marketing” das grandes empresas. Para estas, quem não aprende a se comunicar está fora do mercado de trabalho. O candidato ao ser entrevistado deve demonstrar suas habilidades sociais, e estar desacompanhado da conduta arrogante e vaidosa.  Entretanto, as empresas não querem apenas um currículo abarrotado de cursos, mas um funcionário que saiba: Conversar construtivamente com os colegas, que seja polido, cordial, com bom-humor, equilíbrio, humildade, que tenha metas definidas de crescimento, ou seja, com autoestima, visto que, estas posturas interferem positivamente na relação com o cliente. Além disto, o autor informa que foi verificado, que aquelas pessoas que se dedicam a trabalhos voluntários, apresentam a chamada taxa de bondade social, pois desenvolveram valores como: Tolerância; paciência; capacidade para lidar com as frustrações sem perder o equilíbrio. Portanto, apresentam maiores habilidades sociais para estarem à frente das empresas, na solução de dificuldades, especialmente com o os clientes mais exigentes. Pois que, consideram não como problemas o cotidiano, e sim, como desafios as rotinas laborais.

                         Os estudos sobre assertividade tiveram início com os psicólogos Wolpe e Lazarus, que buscavam fazer uma distinção sobre asserção e agressão. A palavra assertividade era inexistente na língua portuguesa, e foi introduzida pelos terapeutas comportamentais. Na sua tradução, to assert significa “declarar ou afirmar algo de maneira positiva, direta e vigorosa”. A definição do termo auxilia a entender que essas condutas estão ligadas as habilidades sociais e comportamentos verbais, ou seja, à comunicação.  

                           O indivíduo que se manifesta de forma não-assertiva sente-se magoado e ansioso na hora da atitude e, às vezes com raiva e ressentimento depois. O assertivo sente-se confiante e auto-respeitado. O agressivo sente-se superior na hora que fala, justificando que “ falo na cara, doa a quem doer”. Neste caso não estamos falando de assertividade e, sim de falta de educação.

                Mas porque a maioria das pessoas não é assertiva? Uma das explicações, segundo Abranches, que é em decorrência de ansiedade e de crenças inibidoras da conduta assertiva. Ressalta que é evidente que quando alguém fala, sem reservas, causa desconforto a quem ouve e, que o mecanismo de defesa presente é o de reação. Por essa razão, Kern (1982) investigou que a pessoa assertiva acrescenta a suas considerações a empatia, conseguindo moderar os efeitos negativos da asserção.

                Outro fator que leva o indivíduo ao comportamento não-assertivo são algumas crenças irracionais, tais como: 1) Rejeição Pessoal, que diz respeito à crença que alguém deve ser amado o tempo todo, por todos os quem julgue importante, ou seja, incondicionalmente; 2) Competência Pessoal: Que alguém deve ser perfeitamente capaz, sempre, adequado e competente. (3) Noção de Justiça: A vida como uma grande tragédia, se não segue o curso das expectativas da pessoa, o mundo desaba. A incompreensão e a injustiça vistas como catástrofes das quais a criatura sempre é vítima.  Neste caso, o autor finaliza, dizendo que: Pode-se inferir, com base nestas crenças nocivas à felicidade das pessoas, que a assertividade pode ser prejudicada pelo isolamento social ou pelas queixas amargas sobre os outros e sobre o sentimento de desamparo.

               Portanto, se algumas das causas que levam o indivíduo a não ser assertivo, são as crenças arraigadas, podemos no processo psicoterápico rever estas crenças para resignificá-las. Pois é dentro da família que nos construímos. Algumas vezes com uma visão de mundo muito pejorativa que nos fragiliza diante das exigências externas. O indivíduo adulto que ainda permanece cobrando a educação dos pais, não amadurece, comporta-se como eterna criança vitimada. Quando compreende a forma em que estas relações aconteceram e como se comunicavam: se de forma agressiva, não assertiva ou assertiva, o indivíduo se capacita a ampliar a sua percepção. E é mudando a percepção, tem a possibilidade de construir um comportamento mais adequado e com uma convivência mais sadia.

                A vida é um processo dinâmico e, ao ficarmos apegados a crenças do passado não conseguiremos seguir em frente. Construindo uma conduta Assertiva o indivíduo aprende a se expressar de forma equilibrada, sem medo e mimetização. E assim, através de um comportamento proativo a vida deixa de ser um eterno arrastar de correntes.