sábado, 17 de maio de 2014

ONDE ESTÃO OS CUIDADORES?

      “Não te peço que os tire do mundo, mas que os livre  do mal”.
                                                                                      João, 17:15

                 
 De tempos em tempos a população é surpreendida por acontecimentos que deixa a todos mobilizados, como no caso de Isabella Nardoni e agora Bernardo  Boldrini. Ficam estarrecidos pela crueldade e frieza dos atos. Os sentimentos que permeiam o comportamento das pessoas são os mais distintos, desde a curiosidade, identificação até a vingança. Alguns tratam do fato como se fosse um programa de televisão, sem se darem conta do número de Isabellas e Bernardos que existem ocultos por aí. No entanto, elegeram-os como representantes das demais, para ilustrarem a sua própria indignação.

Nas histórias infantis, sempre se ouve contar da madrasta perversa o que, para a maioria das pessoas, não representa nenhuma novidade. Mas ainda se acreditava no pai, que sempre dava um jeito de defender os filhos. Embora algumas vezes fosse omisso, como na fábula da Cinderela. Infelizmente, os noticiários revelam, através das perícias, que em ambos os casos os pais e as madrastas estão envolvidos nestas tramas existenciais. Não mimetizando a fábula.

A menina foi asfixiada e posteriormente jogada do sexto andar do prédio, com a possibilidade de ter sido, inclusive, mediante a presença dos irmãos menores. Triste pensar que tal procedimento parta dos cuidadores destas três crianças. Além disto, pode explicar a falta de afetividade de um pai que tem a filha morta e mente para defender a esposa desequilibrada.

Em relação ao menino os suspeitos deixam vários indícios de negligência, descaso em relação ao menor. A criança implorou por atenção e cuidado, diante do judiciário que tomou as providências cabíveis junto à família, no entanto o tempo expirou junto com a vida de Bernardo.

Hoje são comuns casamentos rompidos, pessoas deixarem de se gostar, principalmente quando não existe mais respeito por parte dos cônjuges. Na maioria das vezes, o casal já tem filhos. Mas isto não deve ser impeditivo para constituir novas famílias. Assim, os filhos deverão conviver com os pais, partindo da premissa que não existe divórcio de filho.  Portanto, quem casa com um homem ou mulher que possui filhos, deve ter claro que esta convivência será inevitável. Assim, o indivíduo que não tem estrutura para conviver com a realidade, não deve se arvorar ao título de padrasto ou madrasta. Mas, infelizmente nem sempre é o que acontece.

Estas relações acabam sendo permeadas de perversidade. Quando os adultos têm que enfrentar algo desconhecido, geralmente resistem. Um colega novo, um professor novo, um trabalho novo ou qualquer situação em que não estejam preparados desestrutura-os. Que atitude esperar então de uma criança? Ela que se constrói dentro da relação com os cuidadores, que são os pais. É natural que seu pai ou sua mãe, casando novamente, desperte no filho ciúmes da nova relação. De acordo com o imaginário infantil, acredita que não será mais amado - o que, de fato, aconteceu nos casos de Isabela e Bernardo - e passa a ter comportamentos que são condizentes para uma criança. Diferente da atitude que se espera dos adultos, que devem ter o equilíbrio suficiente para orientar os pequenos. Entretanto, em adultos imaturos, a conduta é infantil. Agem como crianças, fazendo competição, dentro daquilo que foi construído pela sua paranóia.

A madrasta terceirizou sua felicidade quando passou a viver à sombra da ex-esposa, mãe da menina, que por sua vez nem estava mais preocupada com o ex-marido. Mas, na fantasia da madrasta a criança era a própria mãe. A coitada não se dava conta que quanto mais ela falava na ex-esposa, mais viva ela ficava. E em meio a patologias não tratadas, a criança sofreu as consequências, perdendo a vida. Também no caso Bernardo se percebe o descaso e a falta de afetividade pelo menor, que não apresentava nenhuma conduta agressiva e tão pouco ameaçadora. Na realidade, demonstrava necessitar de muito pouco, embora com uma fortuna a receber.

Um marido que ama a esposa, e é equilibrado, não compactuaria com qualquer comportamento de agressividade. Ainda mais, contra seus filhos. Além disto, ao compartilharem a doença de odiar a mãe das crianças assassinadas, mataram todos os filhos. Isabela e Bernardo fisicamente e os que ficaram vivos e com os pais presos, foram mortos psicologicamente.

 Por mais furiosa que uma pessoa esteja, ela tem noção do certo e errado. Só quando a lógica é construída para beneficio próprio, onde o indivíduo visa apenas o seu bem-estar, em detrimento do outro, ele age assim. Não tolera frustrações, exigindo ser atendido incondicionalmente. Tenta convencer os outros da injustiça que está sofrendo, usando da sedução. Alguns, inclusive choram e gritam para camuflar a própria indiferença, diante das necessidades dos outros, mesmo que sejam seus filhos. Mas, neste caso, não estamos falando propriamente de um pai, mas de um doente, que concebeu uma criança. Portanto, ambos estão no mesmo nível de desenvolvimento emocional.

Quantas Isabellas e Bernardos precisarão ser mortos para a sociedade encontrar o verdadeiro sentido da vida? Quando uma relação não dá certo não existe apenas um responsável, pois se pressupõe que o envolvimento seja entre duas pessoas, portanto, não é unilateral. Ambos estão imbricados neste contexto, que é só deles. Está solucionado o que já não tinha mais solução, com a separação. Assim, devem tentar como pessoas maduras, conversar sobre o bem-estar dos filhos, assumindo a própria vida, sem responsabilizar o outro pela sua felicidade ou desdita.

Somente quando os sentimentos não estão esgotados, os indivíduos permitem que estes direcionem suas vidas. Ficam escravos do ressentimento, da mágoa, da raiva e, às vezes do amor não correspondido. Neste caso, a solução é buscar ajuda profissional.

Além disto, em nenhum dos casos a família é espiritualizada, portanto se justifica a falta de cuidados para com os menores, posto que um dos conceitos de espiritualidade é de ter uma atitude cuidadosa com a vida. Ou seja, com todos os seres viventes, especialmente com aqueles que estão sob a tutela e, deveriam ter recebido  cuidados. Só cuida e é cuidador, quem é espiritualizado.

A doutrina espírita salienta que o primeiro dos direitos naturais do homem, é o de viver. Portanto, ninguém pode atentar quanto à vida de seu semelhante, nem fazer nada que comprometa sua existência. 

É através da vida, que Deus oportuniza as experiências necessárias, junto aqueles aos quais é trazido para reajuste. Pois a família nunca está isenta de responsabilidade.

Certamente estes pais e madrastas foram chamados ao acerto, no entanto sucumbiram. Deixando a prevalência do egoísmo, chaga da humanidade, segundo o evangelho, em seu capitulo XI, item 11.

No Cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram, salienta o Espírito de Verdade. Portanto, espiritualizar-se é o caminho para vencer o egoísmo.

O homem necessita repensar as atitudes, que fazem parte das suas escolhas, o que só é possível quando há humildade. A prepotência e a certeza da impunidade diante da lei dos homens fortalece a infração das leis. No entanto, se ilude a criatura que acredita na impunidade das Leis divinas, diante destas todos respondem.

Matar, tanto fisicamente como psicologicamente os filhos, só demonstra a pouca saúde mental que enveredam por este caminho.

Portanto, a doutrina espírita vem aclarar as criaturas para a mudança de comportamento, chamando ao compromisso com a vida. Construir relacionamentos maduros e responsáveis é tarefa dos pais, que compreendem que o espírito do filho, também veio para evoluir. A imortalidade da alma precisa estar internalizada no cristão para que as atitudes cuidadosas sejam reforçadas com amorosidade. Quando Jesus asseverou “Não te peço que os tire do mundo, mas que os livre do mal, ele preconizava sobre o respeito à vida, que é necessária.

Para Isabella e Bernardo um resgate doloroso,  no entanto para aqueles que executaram o ato, somente a misericórdia divina para se ressarcirem diante das leis maiores. E por isto, Jesus recomenda que nos reconciliemos o mais cedo possível com o nosso adversário, não é somente objetivando apaziguar as discórdias no curso da nossa atual existência; é, principalmente, para que elas se não perpetuem nas existências futuras, para que todos os seres sejam livrados do mal.  

Mariane de Macedo

BIBLIOGRAFIA:
 

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 119. Ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. 

 

 

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