João, 17:15
Nas histórias
infantis, sempre se ouve contar da madrasta perversa o que, para a maioria das
pessoas, não representa nenhuma novidade. Mas ainda se acreditava no pai, que
sempre dava um jeito de defender os filhos. Embora algumas vezes fosse omisso,
como na fábula da Cinderela. Infelizmente, os noticiários revelam, através das
perícias, que em ambos os casos os pais e as madrastas estão envolvidos nestas
tramas existenciais. Não mimetizando a fábula.
A menina foi
asfixiada e posteriormente jogada do sexto andar do prédio, com a possibilidade
de ter sido, inclusive, mediante a presença dos irmãos menores. Triste pensar
que tal procedimento parta dos cuidadores destas três crianças. Além disto, pode
explicar a falta de afetividade de um pai que tem a filha morta e mente para defender
a esposa desequilibrada.
Em relação ao
menino os suspeitos deixam vários indícios de negligência, descaso em relação
ao menor. A criança implorou por atenção e cuidado, diante do judiciário que
tomou as providências cabíveis junto à família, no entanto o tempo expirou
junto com a vida de Bernardo.
Hoje são comuns
casamentos rompidos, pessoas deixarem de se gostar, principalmente quando não
existe mais respeito por parte dos cônjuges. Na maioria das vezes, o casal já
tem filhos. Mas isto não deve ser impeditivo para constituir novas famílias. Assim,
os filhos deverão conviver com os pais, partindo da premissa que não existe divórcio
de filho. Portanto, quem casa com um
homem ou mulher que possui filhos, deve ter claro que esta convivência será
inevitável. Assim, o indivíduo que não tem estrutura para conviver com a
realidade, não deve se arvorar ao título de padrasto ou madrasta. Mas,
infelizmente nem sempre é o que acontece.
Estas relações
acabam sendo permeadas de perversidade. Quando os adultos têm que enfrentar algo
desconhecido, geralmente resistem. Um colega novo, um professor novo, um
trabalho novo ou qualquer situação em que não estejam preparados desestrutura-os.
Que atitude esperar então de uma criança? Ela que se constrói dentro da relação
com os cuidadores, que são os pais. É natural que seu pai ou sua mãe, casando
novamente, desperte no filho ciúmes da nova relação. De acordo com o imaginário
infantil, acredita que não será mais amado - o que, de fato, aconteceu nos casos
de Isabela e Bernardo - e passa a ter comportamentos que são condizentes para
uma criança. Diferente da atitude que se espera dos adultos, que devem ter o
equilíbrio suficiente para orientar os pequenos. Entretanto, em adultos
imaturos, a conduta é infantil. Agem como crianças, fazendo competição, dentro
daquilo que foi construído pela sua paranóia.
A madrasta
terceirizou sua felicidade quando passou a viver à sombra da ex-esposa, mãe da
menina, que por sua vez nem estava mais preocupada com o ex-marido. Mas, na
fantasia da madrasta a criança era a própria mãe. A coitada não se dava conta
que quanto mais ela falava na ex-esposa, mais viva ela ficava. E em meio a
patologias não tratadas, a criança sofreu as consequências, perdendo a vida.
Também no caso Bernardo se percebe o descaso e a falta de afetividade pelo
menor, que não apresentava nenhuma conduta agressiva e tão pouco ameaçadora. Na
realidade, demonstrava necessitar de muito pouco, embora com uma fortuna a
receber.
Um marido que ama
a esposa, e é equilibrado, não compactuaria com qualquer comportamento de
agressividade. Ainda mais, contra seus filhos. Além disto, ao compartilharem a
doença de odiar a mãe das crianças assassinadas, mataram todos os filhos. Isabela
e Bernardo fisicamente e os que ficaram vivos e com os pais presos, foram mortos
psicologicamente.
Por mais furiosa que uma pessoa esteja, ela tem
noção do certo e errado. Só quando a lógica é construída para beneficio
próprio, onde o indivíduo visa apenas o seu bem-estar, em detrimento do outro,
ele age assim. Não tolera frustrações, exigindo ser atendido
incondicionalmente. Tenta convencer os outros da injustiça que está sofrendo, usando
da sedução. Alguns, inclusive choram e gritam para camuflar a própria indiferença,
diante das necessidades dos outros, mesmo que sejam seus filhos. Mas, neste
caso, não estamos falando propriamente de um pai, mas de um doente, que
concebeu uma criança. Portanto, ambos estão no mesmo nível de desenvolvimento
emocional.
Quantas Isabellas
e Bernardos precisarão ser mortos para a sociedade encontrar o verdadeiro
sentido da vida? Quando uma relação não dá certo não existe apenas um
responsável, pois se pressupõe que o envolvimento seja entre duas pessoas,
portanto, não é unilateral. Ambos estão imbricados neste contexto, que é só
deles. Está solucionado o que já não tinha mais solução, com a separação. Assim,
devem tentar como pessoas maduras, conversar sobre o bem-estar dos filhos, assumindo
a própria vida, sem responsabilizar o outro pela sua felicidade ou desdita.
Somente quando
os sentimentos não estão esgotados, os indivíduos permitem que estes direcionem
suas vidas. Ficam escravos do ressentimento, da mágoa, da raiva e, às vezes do
amor não correspondido. Neste caso, a solução é buscar ajuda profissional.
Além disto, em
nenhum dos casos a família é espiritualizada, portanto se justifica a falta de
cuidados para com os menores, posto que um dos conceitos de espiritualidade é de
ter uma atitude cuidadosa com a vida. Ou seja, com todos os seres viventes,
especialmente com aqueles que estão sob a tutela e, deveriam ter recebido cuidados. Só cuida e é cuidador, quem é
espiritualizado.
A doutrina
espírita salienta que o primeiro dos direitos naturais do homem, é o de viver.
Portanto, ninguém pode atentar quanto à vida de seu semelhante, nem fazer nada
que comprometa sua existência.
É através da
vida, que Deus oportuniza as experiências necessárias, junto aqueles aos quais
é trazido para reajuste. Pois a família nunca está isenta de responsabilidade.
Certamente estes
pais e madrastas foram chamados ao acerto, no entanto sucumbiram. Deixando a
prevalência do egoísmo, chaga da humanidade, segundo o evangelho, em seu
capitulo XI, item 11.
No
Cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que
nele se enraizaram, salienta o Espírito de Verdade. Portanto, espiritualizar-se
é o caminho para vencer o egoísmo.
O homem necessita
repensar as atitudes, que fazem parte das suas escolhas, o que só é possível quando
há humildade. A prepotência e a certeza da impunidade diante da lei dos homens
fortalece a infração das leis. No entanto, se ilude a criatura que acredita na
impunidade das Leis divinas, diante destas todos respondem.
Matar, tanto
fisicamente como psicologicamente os filhos, só demonstra a pouca saúde mental que
enveredam por este caminho.
Portanto, a
doutrina espírita vem aclarar as criaturas para a mudança de comportamento,
chamando ao compromisso com a vida. Construir relacionamentos maduros e
responsáveis é tarefa dos pais, que compreendem que o espírito do filho, também
veio para evoluir. A imortalidade da alma precisa estar internalizada no
cristão para que as atitudes cuidadosas sejam reforçadas com amorosidade.
Quando Jesus asseverou “Não te peço que
os tire do mundo, mas que os livre do mal, ele preconizava sobre o respeito
à vida, que é necessária.
Para Isabella
e Bernardo um resgate doloroso, no
entanto para aqueles que executaram o ato, somente a misericórdia divina para
se ressarcirem diante das leis maiores. E por isto, Jesus recomenda que nos
reconciliemos o mais cedo possível com o nosso adversário, não é somente
objetivando apaziguar as discórdias no curso da nossa atual existência; é,
principalmente, para que elas se não perpetuem nas existências futuras, para
que todos os seres sejam livrados do mal.
BIBLIOGRAFIA:
KARDEC, Allan.
O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 119. Ed. Rio de
Janeiro: FEB, 2002.
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