domingo, 16 de fevereiro de 2014

A MULHER E O EVANGELHO


                                 

                                                         “Maria, cuida dos teus filhos do mundo” Jesus.
                                                                                                     *Mariane de Macedo

                               O ser humano adquire muitas crenças ao longo das existências. Muitas delas, inquestionáveis, impedindo a criatura de vivências mais tranquilas, respeitosas e fraternas. Entre estas, a certeza da inferioridade feminina, ainda na atualidade, persegue a homem materialista, que se comporta como se a sua superioridade estivesse no gênero e não na moralidade.

                                Certamente que é necessário viajar na história para entender esta construção que foi reforçada a cada época por figuras renomadas, que na sua maioria eram do sexo masculino.

                                Os gregos acreditavam que era o macho o rei da colmeia, no entanto é a abelha a rainha. Outra crença ancestral é de que o leão é o rei dos animais. Entretanto, a crença deixa de existir pelo fato de que é a leoa quem ataca para obter a comida para os filhotes. Assim, o rei da selva é dependente da leoa e, não ao contrário. Entre os insetos quem pica não é o macho e, sim, a fêmea que necessita do sangue para manter os ovos.

                             Já nas escrituras a mulher é responsável pela perdição do homem: É a mulher que faz Adão se perder e junto toda a humanidade; Ela é submissa porque sai da costela de Adão e não do ventre. Para a psicologia este é um mecanismo de deslocamento. A partir disto, muitas aberrações foram criadas em torno do sexo feminino:     Eclesiastes dizia: Que a mulher é uma coisa mais amarga que a morte; Um provérbio chinês: Uma mulher nunca deveria governar a si mesmo; Pitágoras afirmava que em cada dez mulheres existia apenas uma alma; O teólogo Tomás de Aquino considerava que a mulher era um homem incompleto, um ser ocasional.

                           Dadas estas circunstâncias a mulher vem a séculos lutando por um espaço na sociedade, ainda não alcançado. Em 1781 foi feita a declaração dos direitos da mulher pela pensadora Olympe Gauger, que fora guilhotinada em 1793, pela sua petulância. Além desta época na psicologia havia grandes mulheres que escreviam artigos científicos, mas que não lhes era permitido assinar-lhes. Eram apenas coautoras dos textos dos eméritos psicólogos que fizeram história do psiquismo humano.

                          Em 1848 acontece o movimento de emancipação feminina.  A partir disto a mulher passa de um extremo ao outro, na busca da igualdade, passando a ser uma paródia do homem, quando consegue se igualar nos vícios e não nas oportunidades.  Assim, a luta continua com as operárias da fábrica de tecidos em Nova York, que por fazerem greve e lutarem por seus direitos trabalhistas foram cruelmente mortas, após serem trancadas e incendiadas, morreram carbonizadas. Entretanto, somente foram reconhecidas em 1910 em uma conferência na Dinamarca, que instituiu o Dia Internacional da Mulher em homenagem as 130 tecelãs mortas. Mas somente no ano de 1975, através de um decreto, a data foi oficializada pela ONU.

                            Em 1857, no mesmo ano em que as tecelãs foram queimadas, Kardec, no Livro dos Espíritos - questão 817 questiona os espíritos sobre a igualdade de homens e mulheres, no que os espíritos respondem que homens e mulheres são iguais, pois ambos conhecem o bem e o mal. Portanto, iguais perante Deus, com as mesmas responsabilidades.

                            No Brasil em 24 de fevereiro de 1932 foi instituído o voto feminino. Após muitos anos de reinvindicações e discussões, conquistaram o direito de votar e serem votadas para cargos do legislativo e executivo.

                              Percebe-se que embora a mulher por séculos de repressão inicialmente tenha conseguido a igualdade nos aspectos negativos do homem, atualmente busca desconstruir esta deturpação assumindo o seu papel social.

                              Este papel já era reconhecido há muito tempo por um homem de olhos serenos, que falava por parábolas e compreendia bem a alma humana. Estava sempre rodeado de mulheres. No calvário, os homens fugiram, mas as mulheres permaneceram lá, a seus pés. E uma delas era presença constante. Chamava-se Maria, da cidade de Magdala.

                              E Divaldo Pereira Franco discorre sobre esta personagem:

                              “Era uma casa muito linda”. Um homem com suas vestes de mendigo batem incessantemente à porta. Um jovem serviçal vem atender e o velho mendigo diz: - Desejo falar a senhora. A serviçal abre o enorme portão de madeira e deixa-o em um pátio cercado de flores junto a um belo chafariz. A moça retorna dizendo: - Hoje a senhora não está atendendo e, riu-se dizendo: - Imagine só ela hoje desprezou a companhia de um rei e de um jovem e belo poeta, por acaso pensas que irá falar com velho mendigo. O velho ferido, humilhado alterou a voz e reafirmou: - Preciso falar à senhora. A mulher assustada entrou na intimidade da casa e quando chegou ao quarto de sua senhora deu-se conta de que o mendigo havia entrado junto com ela. O homem então começou a sacudir a senhora dizendo: - Senhora eu o encontrei, acorde senhora, eu o encontrei. A ovem ainda sonolenta abriu os olhos e deu-se com aquele velho desconhecido até então para ela, a gritar na volta de seu leito. – Senhora veja o meu corpo, olhe as chagas de meu corpo não existem mais. E aquele homem gritava dizendo. – Senhora eu encontrei Jesus de Nazaré, ele está aqui bem próximo, vai falar com ele senhora. A mulher então se lembrou daquele homem que ela havia encontrado há algum tempo atrás andava passeando com um de seus amantes quando foi abordada por um leproso que pedia: uma esmola, por favor, senhora, ajuda-me a ir ver Jesus. Ela então gargalhou e perguntou: - quem é Jesus? O homem leproso respondeu: - Dizem que ele cura as doenças de qualquer espécie, ajuda-me senhora. Ela então deu algumas moedas ao mendigo e disse-lhe: Se ele te curar venha me dizer para curar as doenças de minha alma. E saiu rindo-se. Esta foi à segunda vez que havia ouvido falar do Messias, pois a primeira vez foi quando tinha apenas quinze anos. Andava em Jerusalém quando pelos caminhos da vida escutou um profeta a contar estórias na porta do templo dizendo: - Dia virá em que dores e feridas aliviarão e cicatrizarão com a chegada do Messias. Maria havia tido uma desilusão amorosa, encontrou aquele que a enchera de promessas e sonhos, ela apaixonou-se e entregara-se no seu sonho de menina a um homem que ontem era só amor e ternura, mas que ao acordar já o desconhecia, pois partira sem deixar vestígios. Ela chorou, revoltou-se e desde este dia tornara-se uma meretriz de luxo. E ficou conhecida como Maria de Magdala, entregava-se a luxuria a noite, e ao desencanto ao amanhecer.  O mendigo novamente fala: - Vamos senhora ele está aqui em Cafarnaum bem próximo de Magdala, ele a espera. A mulher tomada de esperanças pergunta: - Mas eu sou uma pecadora, ele me receberá? – Sim Senhora, ele diz que são os doentes que precisam de médico. Maria com o coração cheio de esperanças pede a serviçal para chamar o barqueiro e em pouco tempo à luz do luar ilumina um mendigo, um barqueiro e uma meretriz. Após uma hora de viagem chegam os três a beira da praia de cafarnaum. O mendigo então aponta – Veja senhora é naquela casa. Vá ele a espera. Chegando à porta da casa a meretriz para e consegue pela claridade da lua observar a silhueta daquele homem, belo e sereno.  Jesus então se vira e com a voz doce diz: - Venha Maria. A mulher emocionada atira-se aos pés do mestre, dizendo: Rabone, tu sabes o meu nome? – Sim, Maria o bom pastor conhece todo o seu rebanho. – Mas o senhor sabe quem eu sou? Sabe que sou uma mulher de má vida? – ó Maria o bom pastor é aquele que não descansa enquanto não encontra todas as ovelhas desgarradas. – Vá Maria, cuida dos teus filhos! – Mas eu não tenho filhos senhor, nunca pude ter filhos. Eu quero entregar a minha vida a ti senhor. – Maria, o tempo certo eu te pedirei o testemunho. Vá e cuida dos teus filhos, do mundo. No outro dia a cidade de Magdala acorda com a notícia que Maria de Magdala havia enlouquecido. Deu tudo o que tinha, jogou pela janela roupas e joias. Entregou a sua casa para os que não tinham teto e saiu só com a roupa do corpo e um jarro de bálsamo. A partir daquele dia onde estivesse Jesus, apareci a no meio da multidão aquela mulher. Quando Jesus foi para o calvário, Maria agora Madalena estava lá e quando o mestre morreu, Maria de Nazaré sua mãe chorou abraçada em Maria Madalena a antiga pecadora. E foi para ela que Jesus apareceu – Não me toques! Eu ainda não subi ao meu pai, vai e avisa aos outros. Eles não acreditaram. Somente sua mãe Maria de Nazaré. Após a morte separaram-se os discípulos e não quiseram levar Maria Madalena. Assim, começou sua missão no vale dos leprosos que foram os seus filhos do mundo, como lhe dizia Jesus. Maria de Madalena morreu nos braços de Maria de Nazaré, mãe de seu mestre Jesus. “E, quando, em espírito, despertou Jesus a esperava de braços abertos”.

                                Esta estória reabilita a mulher, que faz a transformação moral pelos caminhos do amor, posto que o sentimento modela a alma, transformando-a. As más interpretações judaico-cristãs deram punições a mulher fazendo-as submissas e pecadoras. As adulteras eram apedrejadas e, Jesus questionava onde estavam aqueles que as adulterou. Demonstrando que independente da vestimenta carnal, todos são responsáveis pelas escolhas, buscando a justiça nos comportamentos, não apenas das mulheres. Trazendo a tona à conduta masculina, que as subjugavam e posteriormente adulteravam os fatos.

                              A superioridade do espírito não está no gênero e sim na sua condição moral. A mulher de hoje poderá amanhã habitar um corpo masculino se for preciso para sua evolução espiritual, pois o espirito não tem sexo. Leon Denis diz que: “O homem e a mulher nasceram para funções diferentes, mas complementares. No ponto de vista da ação social, são equivalentes e inseparáveis”. Entretanto, com a sensibilidade feminina, necessária para carregar o filho no ventre, a mulher conta com a mediunidade como contributo na sua existência.

                             Já na antiguidade a sensibilidade feminina era conhecida, e usada nos templos. As pitonisas permaneciam atrás das cortinas, fazendo previsões que eram atribuídas aos profetas.

                            E esta é uma das missões da mulher, de profetizar e, também, de amar. Utilizando da mediunidade para ser mediadora das almas sofredoras. Ajudando-as, qual mãe na sua evolução espiritual através do amor.  E por isto, o Cristo disse a Madalena – Maria cuida dos teus filhos do mundo!

                           Depois do encontro com Jesus a vida de Maria de Magdala se transformou e, Madalena assumiu o compromisso com o Mestre. Muitas mulheres ainda não tiveram a possibilidade deste encontro com o Messias, e ainda permanecem utilizando o corpo e a sensualidade como meio para atingir seus objetivos. A busca do prazer desmedido, equivalendo-se ao homem transviado, sem objetivo algum.  A renúncia das imperfeições morais é imprescindível para a evolução espiritual da criatura, que está ao alcance de todos, pois o virtuoso de hoje é o vicioso de ontem.

                          Assim para aquelas que já acordaram e remaram de Magdala em direção ao Mestre, assumir o seu papel junto ao Evangelho de Jesus, como outrora, é inadiável. Não com agressividade, revanche e competição, mas com amorosidade e compromisso.

                          Compromisso assumido na praia de Cafarnaum, cujas únicas testemunhas foram à luz do luar e Jesus.  Que todas as Marias de hoje, relembrem este chamado, arregacem as mangas e iniciem o cuidado com seus filhos do mundo, debruçadas no evangelho rumo à regeneração.

 

  • Psicóloga

Novo e-mail: marianedemacedo@hotmail.com   

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