“Senhor, permite-me que vá
eu primeiro enterrar meu pai. E Jesus lhe respondeu: Deixa que os mortos
enterrem os seus mortos, e tu vai e anuncia o Reino de Deus”. (Lucas, IX:
59-60).
Jesus não censurava àquele
que considerava um dever de piedade filial ir sepultar o pai. Mas, através
desta assertiva desejava revelar um sentido mais profundo, mostrando que a vida
espiritual é, realmente, a verdadeira vida, a vida do Espírito. Cumprindo mais
uma jornada na terra seguem os espíritos para a pátria espiritual, conduzindo a
bagagem dos feitos acumulados em suas existências físicas. O Espírito
utiliza-se do corpo como revestimento, verdadeira cadeia que o prende à vida terrena,
e da qual ele sente-se feliz em libertar-se.
Certamente Jesus ensinava
que o respeito aos mortos não estava condicionado a matéria, mas ao espírito. Os
homens ainda não compreenderam que é através da subjetividade, ou seja, dos
sentimentos que estão vinculados. E o amor, de todos os sentimentos, é o mais
legítimo.
Conta à lenda que certa mulher, muito pobre,
com uma criança no colo, passando diante de uma caverna escutou uma voz
misteriosa que lá dentro lhe dizia: “Entre e apanhe tudo que você desejar, Mas
não esqueça o principal. Lembre-se, porém, de uma coisa: Depois que você sair,
a porta se fechará para sempre. Portanto, aproveite a oportunidade, mas não esqueça
o principal”. A mulher entrou na caverna e encontrou muitas riquezas. Fascinada
pelo ouro e pelas joias, pôs a criança no chão e começou a juntar,
ansiosamente, tudo o que podia em seu avental. A voz misteriosa falou
novamente: “você só tem oito minutos". Esgotado o tempo, a mulher
carregada de ouro e pedras preciosas, correu para a fora da caverna e a porta
se fechou. Lembrou-se, então, que a criança ficara lá e a porta estava fechada
para sempre!
O
homem materialista passa seus oito minutos da existência física “esquecendo o
principal”. Sobrecarregado pelo peso da matéria, coloca os afetos ao lado,
justificando que a busca material é para beneficiá-los. No entanto, enquanto
gasta anos construindo impérios, negligencia com sua presença física dentro do lar.
A
ambição, a ganância, os prazeres materiais fascina o individuo, que esquece o
essencial, sem perceber que o tempo está esgotando. Somente quando arrebatados
pela morte física é que os afetos tornam-se indispensáveis. Quando a porta
desta vida se fecha, permanecem apenas as lamentações e culpas. A perda dos
entes queridos, ás vezes, é o caminho, doloroso, que leva a pessoa a se
espiritualizar, na busca de aplacar o sofrimento.
Para Divaldo Franco, “Morrer,
longe de ser o descansar nas mansões celestes ou expurgar sem remissão nas
zonas infelizes, é, pura e simplesmente, recomeçar a viver. A morte a todos
aguarda. Preparar-se para tal acontecimento é tarefa inevitável. Apenas as
almas esclarecidas e experimentadas na batalha redentora serão capazes de
transpor a barreira do túmulo e caminhar em liberdade. A reencarnação é uma
bendita oportunidade de evolução. A matéria que se encontra imersa, por ora, é
abençoado campo de luta e de aprimoramento pessoal. Cada dia na carne é uma
chance de recomeço”.
Portanto, necessário manter os
relacionamentos sadios durante a existência, ainda, que alguns estejam regidos
pelas leis da reconciliação. É no
processo educacional, que se motiva a criatura a sua transformação moral. E,
o afeto é mola propulsora a reconstrução
da estima e de hábitos novos. Quando os indivíduos compreendem as leis
naturais, e estabelecem uma vinculação espiritual, não descuidam dos seus
afetos, independente da condição em que se encontram.
Assim, “não esquecer o
principal” é estar vivo e pleno, seja na condição de espírito ou de homem. Para
que, quando a morte bater na porta, não exista motivo para desespero e, sim,
apesar das lágrimas da separação física, que permaneça a certeza da bondade
divina. Pois, Deus concedeu a oportunidade da convivência e aprendizado junto
aqueles que partiram. E na condição de Pai amoroso, sempre permite reencontros
através dos sonhos.
Nada obstante, Jesus, o Mestre
amoroso convida para a reencarnação com vida, ou seja, lúcido dos objetivos
evolutivos. Não se deixando obscurecer pela matéria, que aprisiona e torna o
homem com vida física, mas, morto para essência e os valores espirituais. Portanto: Não esqueça o principal.
ANGELIS, Joana( espírito) –
O Homem Integral – Psicografado por Divaldo Pereira Franco – Salvador – BA –
Livraria Espírita Alvorada, 1990. 1ª Ed.
Divaldo Franco – Triunfo da
imortalidade – Porto Alegre – RS – FERGS , Livraria Francisco Spinelli, 2012.
Kardec, Allan - O livro dos
Espíritos – Edição comemorativa pelo transcurso, em 18 de abril de 2007, do
Sesquicentenário do lançamento de O livro dos Espíritos –ed. FEB.
KARDEC, Allan. O Evangelho
Segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 119. Ed. Rio de Janeiro:
FEB, 2002.
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