domingo, 11 de julho de 2010

PAULO, UM SILÊNCIO BARULHENTO

“Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém”
Paulo (I Corintos 6:12)


Mariane de Macedo

Quando nos reportamos a essa afirmativa de Paulo, de imediato pensamos em autocontrole. Palavra esquecida em uma sociedade imediatista, que tem muita pressa e, busca viver o ter, em detrimento do ser. Na ânsia de adquirir coisas e representar papéis, para ser aceito e admirado, o indivíduo se propõe as mais torpes situações. E fatalmente, quando não alcança, tenta aplacar o sofrimento fugindo de si mesmo. Em algumas circunstâncias colocando a sua vida, e de outros em risco, utilizando-se das mais variadas formas, ingestão abusiva de substâncias psicoativas, alta velocidade e outros.
Um dos períodos em que mais observamos estes desvios de comportamento é no carnaval. Com a justificativa de diversão, tudo é permitido e as pessoas extravasam aquilo que ficou contido durante o ano. Carentes de valores morais os indivíduos vão se permitindo massificar, sem fazer juízo de valor, onde muitas vezes se sentem agredidos, seguindo determinados comportamentos, mas não tem coragem de descontentarem o outro, pelo sentimento de menos valia. Conta-se que ser vez estavam pai e filho, ambos a cavalo, seguindo numa estrada de terra. O filho querendo mostrar ao pai que estava absorvendo todos os seus ensinamentos parou o cavalo e disse ao pai: - Pai lá longe vem uma carroça. E o pai carinhosamente respondeu: - Vem sim, meu filho! Você acertou. E vem vazia. O menino espantado perguntou. – Como você sabe? – é que quanto mais vazia, mais barulho faz. Em decorrência disto, a criatura vazia, busca estratégias fugidias, fazendo muito barulho.
Portanto, para que o indivíduo possa ter a postura proposta por Paulo, precisamos lançar mão de algumas teorias sobre o comportamento humano. Assim, não podemos falar em valores morais, sem falarmos em ética. Mas, o que significa ética? No dicionário encontramos quatro definições: - Teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade; - Morada dos animais, lugar onde eles costumam retornar a querência; - Ciência da conduta e parte da filosofia que aborda os fundamentos da moral. Além disto, na história da ética, alguns pensadores da antiguidade como Sócrates com o conhecido jargão do “Conhece-te a ti mesmo”, afirmava que o homem age reto, quando conhecendo o bem não pode deixar de praticá-lo. Aspirando ao bem sente-se dono de si mesmo e, por conseqüência é feliz. Para Platão com a idéia do Sumo Bem, dizia que as virtudes intelectuais e morais deveriam andar juntas, pois muito se assemelham. E Aristóteles ressaltava que o pensamento é elemento divino do homem e seu bem mais precioso. Destacando que a verdadeira felicidade é conquistada pela virtude. Valorizava a vontade, o esforço, e a busca dos bons hábitos e para a auto-educação supõe um esforço voluntário.
Posteriormente outros autores como Jean-Paul Sartre, que não acreditava na existência de Deus e, assim, não existindo Deus a vida é um compromisso constante, o homem é que escolhe. Em decorrência disto, ninguém é vítima das circunstâncias e o que vale é seu esforço. Já Urie Bronfenbrenner sustenta em sua teoria ecológica, que o homem é uma entidade dinâmica está sempre em crescimento. Afirma que o homem vive em vários microssistemas que são: 1° Microssitema: A família; 2°Mesossitema: A relação dos dois sistemas a família e a escola; 3°Exossistema: Quando a pessoa é afetada pela vivência de outro individuo em um ambiente em que estava. Ex: Filho foi para o carnaval e chegou a casa onde os pais dormem e os acorda. 4°Macrossitema: ambiente social e cultural, ou seja, ambientes sociais maiores. O autor continua, dizendo que quando sabemos da existência destes ambientes conseguimos percebê-los de maneira diferente. Toda vez que o individuo tem uma ação ele evoca uma resposta do ambiente. Assim, a pessoa que compreende que as respostas dadas pelos ambientes são conseqüência do que foi oferecido, oportuniza a criatura de fazer escolhas sobre suas atitudes, favorecendo a convivência.
Na psicologia social, Rodrigues diz que para agirmos precisamos ter conhecimento cognitivo. Como por exemplo, índios – A pessoa precisa vê-los para que tenha um pré-conceito. E há necessidade de um afeto relacionado, índios são selvagens, agressivos. Assim, baseado neste afeto o indivíduo vai se comportar, ou seja, fugir. Para que exista mudança sobre o pré-conceito há necessidade de mudar o afeto. É preciso ter coerência entre cognitivo, afetivo e comportamento para o indivíduo ter equilíbrio. Quando a pessoa muda o afeto ela não forçou uma reação, pois foi em acordo com sua crença, logo foi coerente e entra em consonância cognitiva. Por exemplo: Cognitivamente: Sabe que a bebida não lhe faz bem. Afetivamente: Vai ao carnaval com os amigos que insistem para que beba. Comportamento: 1°Não bebe. Quando atende o que sabe e o que sente, entra em consonância. 2° Não consegue se controlar e atende a vontade dos outros. Ao contrário, agindo em desacordo com o que sabe (cognitivamente) que não deveria beber (afetivamente) perdendo o controle (comportamento) e, entra em dissonância cognitiva, pois está em desacordo consigo.
Sócrates e Platão como precursores da idéia Cristã e do Espiritismo deixaram-nos claro as idéias do Cristo, preparando o caminho para o consolador prometido. E O evangelho segundo espiritismo, em seu cap.-I que nos fala sobre o Espiritismo, ofertando as criaturas uma bússola, para a navegação em todas as marés da existência humana. Levando o homem a uma reflexão sobre o sentido da vida. Além disto, no próprio Evangelho, em seu cap. V- item 24- Quando Delfina de Girardin escreve Sobre a Desgraça Real, nos reporta sobre as conseqüências das nossas escolhas infelizes. E da necessidade de não valorizarmos só aquilo que está na superfície, mas os resultados futuros. Contudo, Rodrigues ao se referir em consonância (equilíbrio) e dissonância (desequilíbrio) ele nada mais fala que sobre a questão 621 de o Livro dos Espíritos, que diz que é na consciência que podemos discernir o certo do errado, ou seja, quando ela está tranqüila estamos em consonância cognitiva, pois sabemos, sentimos e fazemos de forma coerente. Entretanto, a criatura que já tem uma imagem cognitiva gravada de felicidade, sobre o carnaval, terá dificuldades em se posicionar diferente do grupo, quanto aos excessos, ainda que, esteja infeliz. Neste caso, o exercício de bem em relação a si mesmo não acontece, pois ao não construir valores internos suficientes desconhece a própria identidade. E não existindo identidade, não existe individualidade, conseqüentemente a pessoa fica prisioneira das suas crenças destorcidas em relação ao que evoca destes ambientes onde freqüenta.
Então quando o dicionário nos informa que ética é a morada dos animais, volta à querência, vai de encontro ao pensamento Socrático do Conhece-te a ti mesmo. Que é o convite de Joanna de Angelis ao auto-descobrimento. Onde já não podemos mais aceitar de braços cruzados a situação de vítima, concordando com Sartre, na questão do esforço constante. E com Bronfenbrenner, que o indivíduo é uma entidade dinâmica, como preconiza Kardec, em o Livro dos Espíritos Questão 167, sobre o objetivo da reencarnação, que nos remete a nossa realidade espiritual, onde temos que cumprir com o objetivo da evolução. Ainda Joanna de Angelis salienta que no inicio de sua transformação o homem experimenta momentos de bem estar, em decorrência da manutenção dos pensamentos positivos e, quanto mais age no bem, mais se equilibra. Em se equilibrando, muda a vibração e logo não quer voltar à zona de sofrimento, mas para isso necessita de vigilância e oração.
Nestas ocasiões, em especial no carnaval, até mesmo aqueles que têm conhecimento espiritual ficam em dúvida sobre a postura a seguir. No entanto, a resposta está muito clara. Aqueles que estiverem com suas carroças vazias permanecerão fazendo barulho. Entretanto, os que estão se construindo éticos seguirão os passos silenciosos de Paulo de Tarso, que ainda hoje, fazem barulho em nossa alma.



Bibliografia:
ÂNGELIS, Joanna de (espírito). Autodescobrimento – Uma busca interior; psicografado por Divaldo Pereira Franco- Salvador, BA- Liv. Espírita Alvorada. – 03 – 2000.7
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 119. Ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002. Cap. I, item 5, p 56-57 e cap. V, item 24.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Salvador Gentille, revisão de Elias Barbosa. Araras, SP, IDE, 166ª. Edição, 2006. Cap.IV, Q. 167, p 104. – Cap.XI- Livro III – Cap. I, Q. 621, p. 258.
MACEDO, Mariane D. de - Ética no terceiro Milênio como Qualidade de Vida- Monografia de Graduação. Universidade da Região da Campanha. 2001.
RODRIGUES, Aroldo. (outros). Psicologia Social. Cap. 3 - Petrópolis, RJ . Editora Vozes, 1999.

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