domingo, 11 de julho de 2010

A ASSERTIVIDADE DE JESUS


“Que seja o teu dizer, sim, sim, não, não”-Mt 5,33-37

Mariane de Macedo

Com a chegada do terceiro milênio há uma expectativa diante do processo de regeneração, onde o convite a transformação moral se faz presente e inevitável, com perspectivas diferentes que oportunize através da reflexão a busca de novos objetivos, que faça coerente este homem de bem. Nesta máxima de Jesus, percebemos que Ele assevera, sobre a necessidade de atitudes mais objetivas e verdadeiras, sem informações dúbias. Onde o individuo possa se posicionar, sem preocupações com críticas ou perda de afeto. Com certeza, Jesus já falava de assertividade, ou seja, de uma comunicação de forma clara e objetiva, visando resultados mais verdadeiros.
Carlos Augusto Abranches (2001), diz que a era da comunicação exige atributos indispensáveis ao homem, para que tenha competências novas e eficientes, visando interagir de maneira mais profunda e produtiva com os outros e a natureza. Verifica através da proliferação de técnicas de controle mental; Cursos de línguas estrangeiras e oratória, através dos profissionais de “marketing” das grandes empresas. Para estas, quem não aprende a se comunicar está fora do mercado de trabalho. O candidato ao ser entrevistado deve demonstrar suas habilidades sociais, e estar desacompanhado da conduta arrogante e vaidosa. Entretanto, as empresas não querem apenas um currículo abarrotado de cursos, mas um funcionário que saiba: Conversar construtivamente com os colegas, que seja polido, cordial, com bom-humor, equilíbrio, humildade, que tenha metas definidas de crescimento, ou seja, com autoestima, visto que, estas posturas interferem positivamente na relação com o cliente. Além disto, o autor informa que foi verificado, que aquelas pessoas que se dedicam a trabalhos voluntários, apresentam a chamada taxa de bondade social, pois desenvolveram valores como: Tolerância; paciência; capacidade para lidar com as frustrações sem perder o equilíbrio. Portanto, apresentam maiores habilidades sociais para estarem à frente das empresas, na solução de dificuldades, especialmente com o os clientes mais exigentes. Pois que, consideram não como problemas o cotidiano, e sim, como desafios as rotinas laborais.
Se o mundo capitalista já se deu conta de que é necessário mudar a forma de comunicação, com os outros, para poder mantê-los no convívio, é certo que com objetivos específicos de manter uma relação lucrativa, mas ainda assim, buscando soluções para alcançar os resultados desejados. Será que no movimento espírita, a comunicação é clara e objetiva? Os papéis exercidos visam o bem comum e, não apenas o bem pessoal? A caridade pregada é a mesma da “Taxa de Bondade Social”?
Maria Julia Ribeiro (1990) em sua pesquisa sobre assertividade diz que estes estudos tiveram inicio com os psicólogos Wolpe e Lazarus, que buscavam fazer uma distinção sobre asserção e agressão. A palavra assertividade era inexistente na língua portuguesa, e foi introduzida pelos terapeutas comportamentais. Na sua tradução, to assert significa “declarar ou afirmar algo de maneira positiva, direta e vigorosa”. A definição do termo auxilia a entender que essas condutas estão ligadas as habilidades sociais e comportamentos verbais, ou seja, à comunicação.
O comportamento assertivo é definido por Alberti & Emmons (1983) como “aquele que torna a pessoa capaz de agir em seus próprios interesses, a se afirmar sem ansiedade indevida, a expressar sentimentos sinceros sem constrangimento, ou a exercitar seus próprios direitos” (p.18). “Cada pessoa tem o direito de ser e de expressar a si mesmo e sentir-se bem (sem culpas) por fazer isto, desde que não fira seus semelhantes no processo”. A pessoa assertiva deve ser entendida como alguém com características específicas de repertório comportamental e não como uma criatura com determinados traços de personalidade ou dons apropriados para este modo de agir. No sentido real assertividade é uma classe de respostas e não uma estrutura mental. Portanto, alguns estudiosos que definiram algumas características da pessoa assertiva, pontuam que nenhuma é mais importante que a outra, mas que valem como um caminho para ter ações assertivas. São elas: Habilidade de dizer não, habilidade de pedir favores, habilidade de expressar sentimentos, habilidade para iniciar, continuar e encerrar diálogos, respeito aos sentimentos dos outros, expressão e enfrentamento de limitações pessoais, duração da resposta, volume da voz e afeto.
O comportamento assertivo é emocionalmente honesto e de maneira apropriada, o comportamento agressivo é emocionalmente honesto, porém inadequado e, o comportamento não-assertivo é desonesto emocionalmente. Enquanto as condutas assertivas e agressivas são expressivas a não assertiva é inibida e auto-depreciadora; a assertiva é auto-fortalecedora, a agressiva também é só que à custa de quem está sofrendo sua ação – O receptor. O indivíduo que se manifesta de forma não-assertiva sente-se magoado e ansioso na hora da atitude e, às vezes com raiva e ressentimento depois. O assertivo sente-se confiante e auto-respeitado. O agressivo sente-se superior na hora e possivelmente culpado depois.
Para entender as relações que se estabelecem do comportamento assertivo é importante verificar como fica quem recebe a ação: Diante do não assertivo, o receptor sente culpa ou superioridade. Diante de um assertivo sente-se valorizado e respeitado. E quando é alvo de um comportamento agressivo, sente-se magoado e humilhado. O sentimento que o receptor tem pelo emissor da conduta não-assertiva é de irritação, desgosto e pena. Pelo emissor do comportamento assertivo, sente respeito. Já pelo emissor do comportamento agressivo o sentimento que desperta é de raiva e desejo de vingança.
Mas porque a maioria das pessoas não é Assertiva? Uma das explicações, segundo Abranches, que é em decorrência de ansiedade e de crenças inibidoras da conduta assertiva. E uma das resistências exemplificadas pelo autor é de movimentos de conteúdos religiosos, que resistem às pessoas assertivas, considerando-as anticaridosas, quando expressam suas opiniões e conceitos. Cita, ainda, que a assertividade muitas vezes é abafada por supostas atitudes de humildade, a se expressar sorrateiramente na não resposta diante de uma situação de desconforto ou possível desaprovação dos companheiros de atividade. Ressalta que é evidente que quando alguém fala, sem reservas, causa desconforto a quem ouve e, que o mecanismo de defesa presente é o de reação. Por essa razão, Kern (1982) investigou que a pessoa assertiva acrescenta a suas considerações a empatia, conseguindo moderar os efeitos negativos da asserção.
Outro fator que leva o indivíduo ao comportamento não-assertivo são algumas crenças irracionais, tais como: 1) Rejeição Pessoal, que diz respeito à crença que alguém deve ser amado o tempo todo, por todos os quem julgue importante, ou seja, incondicionalmente; 2) Competência Pessoal: Que alguém deve ser perfeitamente capaz, sempre, adequado e competente. (3) Noção de Justiça: A vida como uma grande tragédia, se não segue o curso das expectativas da pessoa, o mundo desaba. A incompreensão e a injustiça vistas como catástrofes das quais a criatura sempre é vítima. Neste caso, o autor finaliza, dizendo que: Pode-se inferir, com base nestas crenças nocivas à felicidade das pessoas, que a assertividade pode ser prejudicada pelo isolamento social ou pelas queixas amargas sobre os outros e sobre o sentimento de desamparo.
Ao fazer uma analogia sobre os pressupostos dos autores citados, com os princípios básicos da doutrina espírita, fica a constatação de que a filosofia espírita apresenta as respostas ao indivíduo, no entanto, não há coerência entre a teoria e a vivência. Na questão 132. LE, os espíritos respondem a Kardec, que o objetivo da encarnação é a evolução. Portanto, terá a criatura ajustes a fazer com aqueles dos quais irá conviver. Entretanto, esse conhecimento teórico, adormece quando o ser reencarnado permite que a crença de rejeição pessoal, se instale no psiquismo, ditando normas de comportamentos, sem juízo de valor. Pois que, espíritos imperfeitos, estão sujeitos a não serem amados incondicionalmente, e é exatamente para reverterem esta situação e desenvolverem estes afetos que receberam a oportunidade da vida. Além disto, a crença de Competência Pessoal faz do indivíduo um ser superior, onde errar não pode fazer parte de sua condição humana. E ao sentir-se infalível, passa a exigir dos outros, comportamentos irrepreensíveis. Comporta-se como um verdadeiro neurótico, ou é Deus, ou não é nada. Contrariando, novamente os pressupostos da doutrina, que demonstra que o uso do livre-arbítrio, torna a pessoa mais consciente pelas suas escolhas. Onde a criatura não necessita um juiz implacável, para que suas ações sejam corretas, posto que, entende que é na consciência, que está à maneira de proceder. (Q. 621 – LE). E por último, a Noção de justiça, onde a vida é vista como uma grande tragédia, não a oportunidade de evolução. O indivíduo que percebe apenas lado negativo está doente, sendo que as dificuldades cotidianas fazem parte do aprendizado. Nenhum aluno que vai a sala de aula aprender, sai desta, sem ser avaliado. Como que o professor terá certeza de sua assimilação se não houver prova. Quando o homem passa por situações contrarias as suas expectativas, necessita lançar mão de suas habilidades para que consiga ter uma postura mais condizente. Portanto, quem compreende a doutrina espírita, sabe que Deus é justo e, sendo este Pai, não permite que seus filhos vivam no desespero. Neste caso, cabe a utilização do atributo da inteligência para uma melhor reflexão, pois nos ensinamentos do Cristo, bem como agora sem véu, na codificação, esses pressupostos que a ciência denomina já estavam lá.
Em relação à assertividade ser anticaridosa, encontramos no ESE cap.XV-item 6. Necessidade da Caridade segundo São Paulo, onde de forma poética diz que: “A caridade é paciente; é branda e benfazeja; caridade, não é temerária, nem precipitada; não se enche de orgulho; - não é desdenhosa; não cuida de seus interesses; não se agasta, nem se azeda com coisa alguma; não suspeita mal; não rejubila com a injustiça, mas se rejubila com a verdade; tudo suporta tudo crê, tudo espera, tudo sofre. Após essa assertiva de Paulo, ser claro e objetivo com os companheiros de jornada é um ato de caridade, posto que a caridade não é orgulhosa, não deve servir para humilhar ninguém. Não é temerária, logo deve servir como um ato de coragem, pelo bem comum. Não suspeita mal, ou seja, não fica na suposição, mas esclarece com o companheiro, visando à solução da problemática. Não se rejubila com a injustiça, quando não permite que as pessoas fiquem com comentários maldosos, em relação aos outros, posiciona-se em relação ao que está sendo alvo de injustiça não permitindo a impregnação de um ambiente maldoso. Se rejubila com a verdade, não com o escândalo, visto que, quando se esclarecem as dúvidas, muda a sintonia dos pensamentos e os equívocos são desfeitos. Tudo suporta tudo crê, tudo espera, tudo sofre, ou seja, quantas vezes ao esclarecer e nominar os fatos, mesmo de forma empática, os que ainda não conseguem compreender, se afastam. Mas, a caridade tudo crê, e se é justo e verdadeiro o objetivo, mesmo sofrendo, espera. Anticaridoso é deixar que os companheiros de caminhada, que estão no mesmo lar, sociedade, trabalho, instituição religiosa, e não é por acaso, permaneçam num comportamento fariseu, embora no século vinte e um. E isso, explica o porque que o maior psicólogo e modelo e guia. LE. Q.625 – Jesus, já chamava a atenção sobre a Verdadeira Pureza (ESE-Cap.VIII-ítem.8). “o que sai da boca procede do coração e é o que torna impuro o homem; ...Ou seja, qual o objetivo ao falar com agressividade, ou não assertivamente? Onde se quer chegar? Esta foi a preocupação de Wolpe e Lazarus, de fazer a distinção entre asserção e agressão. É importante falar, mas utilizando um método para que da comunicação, não respingue as imperfeições morais do emissor, para que o receptor se sinta respeitado, motivando-se a vencer a si mesmo.
Portanto, se as causas que levam o indivíduo a não ser assertivo, são as crenças arraigadas, quando é que acontecerá esse despertar para a realidade espiritual. De onde viemos? O que estamos fazendo aqui? E para onde vamos? A maioria sabe responder as duas primeiras perguntas, no entanto, a última só saberá responder aqueles que buscarem na sua transformação moral, a passagem para um mundo melhor. E, aqueles que ainda não sabem responder a última pergunta, podem lançar mão da comunicação assertiva, como um instrumento de reforma íntima, posto que é algo que pode ser desenvolvido. Basta que o indivíduo consiga se colocar no lugar dos outros e vai entender quais os sentimentos despertados nestes, quando as condutas não são assertivas. Quando a pessoa se responsabiliza pelas respostas que evoca do meio, sabe que para toda a ação, existe uma reação. Somente com a renovação de condutas, o trabalhador espírita, iniciará o caminhado rumo à regeneração. E para isso, o Consolador Prometido por Jesus vem aclarar o caminho, para que o nosso dizer seja tão assertivo, quanto o do mestre. “Que seja o teu dizer, sim, sim, não, não”



BIBLIOGRAFIA:

DELL PRETTE, Zilda A. P. Psicologia das Habilidades Sociais-. Ed. Vozes

KARDEC, Allan – O Evangelho Segundo Espiritismo – 1 ed. Porto Alegre, RS: FERGS -2006.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Salvador Gentille, revisão de Elias Barbosa. Araras, SP, IDE, 166ª. Edição, 2006.
RIBEIRO, Maria Julia. Assertividade: avaliação e desenvolvimento entre universitários. Tese de doutorado da Universidade de Taubaté, SP - 1990
SCHUBERT, Suely Caldas org.- Visão Espírita para o Terceiro Milênio- Cap. II- pag. 17. Casa Editora Espírita “Pierre-Paul Didier, 2001

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