domingo, 9 de janeiro de 2011

DO TRIBUNAL A ESCOLA DA VIDA

Mariane de Macedo

A existência humana é dos deveres de casa mais difíceis do indivíduo cumprir. Partindo do pressuposto de que a terra é uma escola, e reencarnadas as criaturas tenham que aprender e cumprir com as lições ensinadas. Fazendo esta analogia com a escola convencional, a professora ensina em sala de aula e posteriormente, coloca o tema de casa, para que em fazendo os exercícios, o aluno consiga praticar. Assim, confirma o livro dos espíritos na questão 132. “Deus lhes impõe a encarnação com o fim para a perfeição”. Portanto, não há perfeição sem a prática diária.
Desta forma, o indivíduo não tem como fugir dos imperativos da vida. E, para isto, a vida não pode ser vista como uma tragédia. Os fatos do cotidiano são situações que precisam ser administradas para ao término do dia, as lições tenham sido assimiladas. Ainda que, não tenham sido fixadas e necessitem serem repassadas no dia seguinte. Tudo seria mais fácil se procedesse assim à criatura humana. No entanto, existem indivíduos que se esforçam não apenas para não fazerem a lição do cotidiano, como também se negam a aprender qualquer coisa nova que se a vida lhes apresente.
A cada tipo de modo de funcionamento se verifica atitudes mais ou menos comprometidas. Quando a pessoa não aprende a lição e busca ajuda, reconhecendo as suas limitações, a professora vai repassar o conteúdo e o aluno terá condições de assimilação. Estas são as pessoas simples e humildes de coração, que compreendem que necessitam do outro para alcançarem seus objetivos. E estas se destacam, silenciosamente, os chamados pobres de espírito, que reconhecem a divindade e não relutam para alcançá-la. Fazem o possível para em Deus terem a sustentação da fé, para enfrentarem as suas dificuldades existenciais.
Alguns alunos vão para a sala de aula e querem ficar na bagunça sem objetivo. São as pessoas que acreditam que a vida é uma festa e vieram aqui para passear, apegadas as aparências não ligam para o aprendizado, lidando apenas com frivolidades. Buscam auxílio de Deus, apenas como status. Não tem práticas de transformação moral, e quando chamadas a caridade, até auxiliam ao próximo, mas se forem bem recompensados pelos jornais e aplausos sociais.
Além destes, tem os que vão para a sala de aula a força e querem atrapalhar o aprendizado, agredindo aos demais alunos com bolas de papéis, pedras, e atualmente através do bullyng, que é a prática abusiva geral de desrespeito ao outro. São as pessoas inconformadas que não querem aprender e ainda criam confusões aos outros. Para estes a vida passará em branco, pois se negam a qualquer tipo de ajuda e com o sofrimento advindo das conseqüências de seus atos, tornam-se indiferentes aos demais. Na terra, terão a última oportunidade evolutiva, pois não acompanharão o processo de regeneração. Em outros mundos de provas e expiação permanecerão até o despertar de consciência.
Mas, ainda tem outro grupo de alunos que são aqueles que aprendem com facilidade e como aprenderam, não dão a vez aos demais que ainda estão vencendo suas limitações até o saber. No entanto, estas são as pessoas racionais, onde o aprendizado é intelectual não passa pela emoção. Que acreditam que todas as pessoas devem agir exatamente iguais, ao que pensam, pois são as primeiras a não executarem as próprias exigências. Independente de estarem certas ou erradas. E este grupo é um dos mais difíceis de convivência, pois utilizam o saber de forma manipulatória. Onde a justiça deve sempre beneficiá-las em detrimento do outro e para isso fazem defesas contundentes, mas cheias de vazio de significado, posto que os motivos e alegações do outro sejam insignificantes diante de suas próprias verdades. A razão sobrepondo a emoção. O orgulho do saber construído, desrespeitando as provas e argumentações alheias.
Para este último grupo de alunos da existência terrena o maior desafio é a prática dos exercícios que a vida lhes impõe, posto que Deus, sendo justo não os deixaria a margem da prática, que todos os demais são colocados. Mas lhes falta o principal, que é a humildade. Pois acreditam que tendo facilidade para o aprendizado são os escolhidos de Deus para ensinarem — os pobres seres mortais que vivem a se arrastarem—. Só que embora com a crença de professores de Deus, esquecem que com este cargo, deveriam ensinar os conteúdos de Deus de: compreensão, bondade, justiça, lealdade, respeito e outros. Mas a incoerência que impera faz ditarem as suas próprias normas, que geralmente vem carregada de arrogância e prepotência.
Enquanto que o primeiro grupo busca ajuda para o aprendizado e se esforça para colocá-lo em prática. O segundo não se interessa em aprender, mas depois contrata uma professora particular e no momento das provas passa de ano, com o conteúdo decorado, sem que lhe faça muito sentido, até o despertar. O terceiro não queria ir para a escola, portanto não deseja aprender, desta forma repetirá muitas séries. Mas o quarto grupo aprende, no entanto, não exerce o aprendizado. Seu maior deleite é que os outros façam o que ele diga, mas nunca o que ele faz.
Portanto, ao se fazer uma analogia da vida humana com o período escolar preciso é buscar nas lições que a vida oferece o exercício salutar de construção emocional, para a criatura não repetir os equívocos do passado e saia da sala de aula melhor de que quando entrou. De nada vai ajudar na existência enquanto se acreditar que a vida é um grande Tribunal, onde o outro é julgado e condenado sem direito de defesa. Ou, ainda, em casos mais rígidos apenas levados a prisão, onde o juiz retrocede as idades antigas, colocando nas masmorras pessoas que nem compreendem o porquê de suas prisões.
O homem inteligente na terra é aquele que busca cumprir com os ensinamentos de Deus, de caridade e amor reconhecendo no seu próximo alguém que se encontra no mesmo processo de aprendizado, em pé de igualdade. Que em algumas lições terá êxito, e em outras necessitará muito de apoio. No entanto, o auxilio vem de forma espontânea e não manipulatória. Somente através da humildade que se conquista espaços e pessoas. Quando as relações são por interesse, as bases de sustentação são frágeis e a tendência é romper por definitivo, a mínima contrariedade. Mas quando construídas na base do respeito, cordialidade e tolerância, embora também, passando por processos de dor são mais fáceis de serem assimiladas, pois o ser não fica só. Além disto, a autenticidade dos sentimentos oportunizará a superação de qualquer fórmula mais elaborada, usando de conduta assertiva.
A vida não é um tribunal e sim uma escola, posto que Deus não seja um juiz impiedoso e cruel, ele é Pai. E como bom Pai, não colocou seus filhos na cadeia e sim na Escola.
Bibliografia:
Kardec, Allan - O livro dos Espíritos – Edição comemorativa pelo transcurso, em 18 de abril de 2007, do Sesquicentenário do lançamento de O livro dos Espíritos –ed. FEB.
Ângelis, Joanna de (espírito) [psicografia de] Divaldo Franco – O Ser consciente – Salvador, BA: livr. Espírita Alvorada, 1995.



Um comentário:

  1. Meus cumprimentos! Uma análise perfeita da nossa sociedade contemporânea, e que cabe perfeitamente em muitas sociedades espíritas, onde infelizmente podemos identificar todos os tipos de comportamentos citados, entre os membros das diretorias, coordenadores, doutrinadores e trabalhadores. Deveria ser usado como tema de palestras em seminários.

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